Em Raízes Do Conservadorismo Brasileiro, Juremir Machado da Silva aponta caminhos capazes de elucidar por que o Brasil é um país em débito com a própria história.
Partindo da análise de discursos políticos e jornalísticos do início do século XIX, o autor identifica fundamentos conservadores que permearam o contexto da assinatura da Lei Áurea e sobre os quais foi erigida, um ano e meio depois, a República brasileira.
Ciente de que a liberdade não foi uma concessão, mas uma árdua conquista das pessoas negras, o autor demonstra como a estrutura do capitalismo comercial escravista se traduziu – e ressoa ainda hoje – numa intrincada legislação, elaborada para atender a determinados interesses, e num imaginário cultural e ideológico, edificado para justificar a manutenção de privilégios – mesmo que isso implicasse, na época, a desumanização e a coisificação de pessoas.
Em texto ágil, o autor desvela as origens do conservadorismo e a história da busca pela igualdade social no Brasil. A fina ironia que acompanha o texto, se não torna o tema mais leve, funciona como um mecanismo que ajuda o leitor a suportar o espanto de ver a gênese da hipocrisia que ainda hoje sustenta relações de dominação entre classes e raças.
Raízes Do Conservadorismo Brasileiro é um livro essencial não apenas para pessoas interessadas em história, sociologia e análise do discurso, mas também para aquelas que desejam viver em um país melhor, em que a escravidão tenha de fato se extinguido para todos.
O historiador apresenta os personagens da política da época, com suas posturas, suas questões, seus arroubos e suas biografias.
Grandes figuras são retiradas do pedestal e desconstruídas na obra de Juremir. Um exemplo: José de Alencar, autor de Iracema. Raízes Do Conservadorismo Brasileiro mostra que ele foi um escravocrata vital, que votou contra a Lei do Ventre Livre. Alencar foi racista, escravista ferrenho e teórico da infâmia.
Os grandes defensores da abolição foram Rui Barbosa, José do Patrocínio, Castro Alves e Joaquim Nabuco, entre outros, que desembainharam suas penas na defesa dos direitos dos negros.
Um dos capítulos mais chocantes da obra de Juremir Machado é o que aborda “a lenda da criação do negro”. Ele revela um texto publicado em 1887 pelo jornal A Província do Espírito Santo. Trata-se de uma paródia – como o Diabo criou o preto para ser o pior da sociedade –, mostrando como o racismo foi uma construção consciente, articulada, hedionda e disseminada pela “mídia” da época para tentar naturalizar a mais infame das instituição: a escravidão.
Os jornais da época, de uma forma geral, defendiam de forma ardorosa o respeito às instituições, isto é, à propriedade de seres humanos
Raízes Do Conservadorismo Brasileiro deixa claro, igualmente, que a Justiça cumpria o papel de verdadeira guardiã da legalidade da escravidão. Já os militares eram obrigados a cumprir o triste papel de capitães-do-mato.
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