Achados E Perdidos Da História: Escravos

Calhamaços com documentos e registros sobre a escravidão ficaram por muito tempo esquecidos em arquivos brasileiros simplesmente porque não havia quem os analisasse.
A transcrição e a interpretação de documentos antigos são processos lentos, difíceis e muitas vezes tediosos – o historiador precisa passar por muitos textos cheios de instruções burocráticas até encontrar histórias que revelem preciosidades do passado.


Mas dos anos 1990 para cá, com o aumento dos cursos de graduação e pós-graduação em história, um exército de jovens historiadores avançou sobre os arquivos.
Eles descobriram que, embora o ministro Rui Barbosa, em 1890, tenha mandado queimar registros da escravidão para evitar que os antigos senhores pedissem indenização ao governo pela perda dos escravos, muitos outros documentos haviam sido preservados.
Famintos por novas histórias e interpretações, esses estudiosos vasculharam registros de batismo e de óbito, testamentos, cartas de alforria, anúncios e notícias de jornais, cartas e correspondências administrativas, relatos de viajantes estrangeiros, tabelas de movimentação de portos, ações de liberdade movidas por escravos contra seus senhores, processos comerciais, criminais e da Justiça eclesiástica, entre muitos outros.
Das décadas do trabalho vagaroso e extenuante desses pesquisadores, surgiram personagens extraordinários da escravidão brasileira.
A missão de Escravos é contar a história da escravidão por meio de algumas dessas histórias de vida. A partir da biografia de escravos, percorro os três séculos da escravidão e suas diversas fases: a escravidão portuguesa de povos não africanos, a captura de negros na África, a negociação com os reis africanos, a travessia do Atlântico a bordo dos navios negreiros, a vida nas fazendas, os quilombos, o cotidiano agitado nas cidades quando a abolição se aproximava.
Muitas histórias confirmam a brutalidade que, como sabemos, marcava aquele sistema. Como a da piauiense que dizia ser “um colchão de pancadas”, a do rapaz com “sinais de chicote pela barriga, costas e pescoço” que pareciam “cicatrizes de fogo”, a do menino livre que foi sequestrado e vendido como escravo.
Outras histórias espantam: no século 18, uma mulher livre se vendeu como escrava; um negro liberto mandava dinheiro a viúva de seu antigo dono após saber que ela tinha empobrecido. São relatos tão surpreendentes que só conseguimos entendê-los se abandonarmos nossa mentalidade acostumada à liberdade e aos direitos humanos do século 21.
A conclusão a que o leitor provavelmente chegará ao final da leitura de Escravos é que não houve só uma escravidão no Brasil. Mas várias, de diversos tipos e cenários. Alguns exemplos do relacionamento entre escravos e senhores lembram o que Gilberto Freyre chamava de “escravidão branda”, aquela em que o senhor era bondoso e o escravo, fiel.
Outras convergem com as ideias de Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso, os acadêmicos da escola paulista que nos anos 1960 contrariaram Gilberto Freyre ao mostrar a rotina de terríveis castigos que os escravos sofriam. Se há alguma afirmação em Escravos, é a de que a escravidão brasileira foi muito mais diversa, complexa e interessante do que imaginamos.

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Mas dos anos 1990 para cá, com o aumento dos cursos de graduação e pós-graduação em história, um exército de jovens historiadores avançou sobre os arquivos.
Eles descobriram que, embora o ministro Rui Barbosa, em 1890, tenha mandado queimar registros da escravidão para evitar que os antigos senhores pedissem indenização ao governo pela perda dos escravos, muitos outros documentos haviam sido preservados.
Famintos por novas histórias e interpretações, esses estudiosos vasculharam registros de batismo e de óbito, testamentos, cartas de alforria, anúncios e notícias de jornais, cartas e correspondências administrativas, relatos de viajantes estrangeiros, tabelas de movimentação de portos, ações de liberdade movidas por escravos contra seus senhores, processos comerciais, criminais e da Justiça eclesiástica, entre muitos outros.
Das décadas do trabalho vagaroso e extenuante desses pesquisadores, surgiram personagens extraordinários da escravidão brasileira.
A missão de Escravos é contar a história da escravidão por meio de algumas dessas histórias de vida. A partir da biografia de escravos, percorro os três séculos da escravidão e suas diversas fases: a escravidão portuguesa de povos não africanos, a captura de negros na África, a negociação com os reis africanos, a travessia do Atlântico a bordo dos navios negreiros, a vida nas fazendas, os quilombos, o cotidiano agitado nas cidades quando a abolição se aproximava.
Muitas histórias confirmam a brutalidade que, como sabemos, marcava aquele sistema. Como a da piauiense que dizia ser “um colchão de pancadas”, a do rapaz com “sinais de chicote pela barriga, costas e pescoço” que pareciam “cicatrizes de fogo”, a do menino livre que foi sequestrado e vendido como escravo.
Outras histórias espantam: no século 18, uma mulher livre se vendeu como escrava; um negro liberto mandava dinheiro a viúva de seu antigo dono após saber que ela tinha empobrecido. São relatos tão surpreendentes que só conseguimos entendê-los se abandonarmos nossa mentalidade acostumada à liberdade e aos direitos humanos do século 21.
A conclusão a que o leitor provavelmente chegará ao final da leitura de Escravos é que não houve só uma escravidão no Brasil. Mas várias, de diversos tipos e cenários. Alguns exemplos do relacionamento entre escravos e senhores lembram o que Gilberto Freyre chamava de “escravidão branda”, aquela em que o senhor era bondoso e o escravo, fiel.
Outras convergem com as ideias de Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso, os acadêmicos da escola paulista que nos anos 1960 contrariaram Gilberto Freyre ao mostrar a rotina de terríveis castigos que os escravos sofriam. Se há alguma afirmação em Escravos, é a de que a escravidão brasileira foi muito mais diversa, complexa e interessante do que imaginamos.

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