O Mestre Ignorante

Jacques Ranciére - O Mestre Ignorante

O Mestre Ignorante conta a história de Joseph Jacotot – professor, militante ardoroso do Século das Luzes que, confrontado, em 1818, a uma situação pedagógica inaudita, é levado a romper com todos os pressupostos existentes sobre as condições básicas do ensinar.
A partir de então, Jacotot transformou radicalmente suas ideias e sua prática, oferecendo uma resposta à altura desse desafio.


Mas não se tratou, para ele, apenas de conceber um método, um sistema, ou uma proposta pedagógica revolucionários; Jacotot deu início, a partir daí, a uma aventura intelectual incessante,dessas que bem merecem o título de filosóficas, capazes de pôr em questão os sentidos instituídos do ensinar e do aprender.
A igualdade como princípio, a emancipação como método: quem ainda hoje ousaria negar a radicalidade de sua proposição?
No ano de 1818, Joseph Jacotot, leitor de literatura francesa na Universidade de Louvain, viveu uma aventura intelectual.
Uma longa e movimentada carreira deveria, no entanto, tê-lo resguardado das surpresas: dezenove anos, comemorados em 1789. Ele,então, ensinava Retórica em Dijon e se preparava para o ofício de advogado.
Em 1792, havia servido como artilheiro nas tropas da República. Em seguida, a Convenção o teve, sucessivamente, como instrutor na Seção das Pólvoras, Secretário do Ministro da Guerra e substituto do Diretor da Escola Politécnica. De retorno a Dijon, ele havia ensinado Análise, Ideologia e Línguas Antigas, Matemáticas Puras e Transcendentes e Direito.
Em março de 1815, a estima de seus compatriotas o havia tornado, à sua revelia, deputado. A volta dos Bourbons o conduzira ao exílio, onde obtivera da liberalidade do rei dos Países-Baixos o posto de professor em meio período. Joseph Jacotot conhecia as leis da hospitalidade e contava passar, em Louvain, dias tranquilos.
Mas o acaso decidiu outra coisa. Com efeito, às lições do modesto leitor acorreram rapidamente os estudantes. E, entre aqueles que se dispuseram a delas beneficiar-se, um bom número ignorava o francês. Joseph Jacotot, por sua vez, ignorava totalmente o holandês.
Não existia, portanto, língua na qual pudesse instruí-los naquilo que lhe solicitavam. Apesar disso, ele quis responder às suas expectativas. Para tanto, era preciso estabelecer, entre eles, o laço mínimo de uma coisa comum. Ora,publicara-se em Bruxelas, naquela época,uma edição bilíngue do Telémaco: estava encontrada a coisa comum e, dessa forma, Telêmaco entrou na vida de Joseph Jacotot.
Por meio de um intérprete, ele indicou a obra aos estudantes e lhes solicitou que aprendessem, amparados pela tradução, o texto francês. Quando eles haviam atingido a metade do livro primeiro, mandou dizer-lhes que repetissem sem parar o que haviam aprendido e, quanto ao resto, que se contentassem em lê-lo para poder narrá-lo.
Era uma solução de improviso, mas também, em pequena escala, uma experiência filosófica, no gosto daquelas tão apreciadas no Século das Luzes. E Joseph Jacotot, em 1818, permanecia um homem do século passado.

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A partir de então, Jacotot transformou radicalmente suas ideias e sua prática, oferecendo uma resposta à altura desse desafio.
Mas não se tratou, para ele, apenas de conceber um método, um sistema, ou uma proposta pedagógica revolucionários; Jacotot deu início, a partir daí, a uma aventura intelectual incessante,dessas que bem merecem o título de filosóficas, capazes de pôr em questão os sentidos instituídos do ensinar e do aprender.
A igualdade como princípio, a emancipação como método: quem ainda hoje ousaria negar a radicalidade de sua proposição?
No ano de 1818, Joseph Jacotot, leitor de literatura francesa na Universidade de Louvain, viveu uma aventura intelectual.
Uma longa e movimentada carreira deveria, no entanto, tê-lo resguardado das surpresas: dezenove anos, comemorados em 1789. Ele,então, ensinava Retórica em Dijon e se preparava para o ofício de advogado.
Em 1792, havia servido como artilheiro nas tropas da República. Em seguida, a Convenção o teve, sucessivamente, como instrutor na Seção das Pólvoras, Secretário do Ministro da Guerra e substituto do Diretor da Escola Politécnica. De retorno a Dijon, ele havia ensinado Análise, Ideologia e Línguas Antigas, Matemáticas Puras e Transcendentes e Direito.
Em março de 1815, a estima de seus compatriotas o havia tornado, à sua revelia, deputado. A volta dos Bourbons o conduzira ao exílio, onde obtivera da liberalidade do rei dos Países-Baixos o posto de professor em meio período. Joseph Jacotot conhecia as leis da hospitalidade e contava passar, em Louvain, dias tranquilos.
Mas o acaso decidiu outra coisa. Com efeito, às lições do modesto leitor acorreram rapidamente os estudantes. E, entre aqueles que se dispuseram a delas beneficiar-se, um bom número ignorava o francês. Joseph Jacotot, por sua vez, ignorava totalmente o holandês.
Não existia, portanto, língua na qual pudesse instruí-los naquilo que lhe solicitavam. Apesar disso, ele quis responder às suas expectativas. Para tanto, era preciso estabelecer, entre eles, o laço mínimo de uma coisa comum. Ora,publicara-se em Bruxelas, naquela época,uma edição bilíngue do Telémaco: estava encontrada a coisa comum e, dessa forma, Telêmaco entrou na vida de Joseph Jacotot.
Por meio de um intérprete, ele indicou a obra aos estudantes e lhes solicitou que aprendessem, amparados pela tradução, o texto francês. Quando eles haviam atingido a metade do livro primeiro, mandou dizer-lhes que repetissem sem parar o que haviam aprendido e, quanto ao resto, que se contentassem em lê-lo para poder narrá-lo.
Era uma solução de improviso, mas também, em pequena escala, uma experiência filosófica, no gosto daquelas tão apreciadas no Século das Luzes. E Joseph Jacotot, em 1818, permanecia um homem do século passado.

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