O Quixote Do Judeu

Peça escrita em 1733, A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança subiu aos palcos de Lisboa, no popular Bairro Alto, para alegria de um público ávido pelas brincadeiras e barafundas do então já conhecido e estimado Antônio José, mais popularmente chamado de “o Judeu”.
Suas comédias populares eram encenadas por meio de bonifrates de cortiça, confeccionados por ele mesmo. Muitas das cenas e diálogos que aparecem nesta peça são críticas à famigerada Inquisição e também denúncias de um sistema político-social degradante que imperava em Portugal no século XVIII. Perseguido pela Inquisição, Antônio José morreu queimado em um Auto de fé.


Ao longo da peça, num misto de cenas ora faladas ora cantadas, o leitor irá se deparar com algumas árias, coros e minuetos. Afinal, trata-se de uma opereta joco-séria, representada por grandes bonecos articulados de cortiça, a qual dialoga tanto com a ópera bufa italiana como com as zarzuelas espanholas.
Michel Foucault, em As palavras e as coisas, observa que Dom Quixote, protagonista de uma das primeiras grandes obras modernas, foi estruturado por Cervantes na trilha da descontinuidade e da ruptura. Quixote, complementa Foucault, constitui-se de palavras “entrecruzadas”, tornando-se uma “escrita errante no mundo”.
Mas, o Cavaleiro da Triste Figura não é somente o personagem da cisão e do rompimento. Ele é também um homem delirante, um louco, “entendido não como doente, mas como um desvio constituído e mantido como função cultural indispensável”.
Tão indispensável, acrescentamos, que não são poucos os grandes nomes da literatura ocidental que se deixaram seduzir pelos desvios, os delírios e as rupturas alopradas deste fidalgo aventureiro. De Miguel de Unamuno a Kafka; de Borges a Drummond; de Dostoievski a Byron, são inúmeros os autores, leitores de Cervantes, que reelaboraram as alegres sandices de Quixote e Sancho.
Essa dupla, aparentemente atrapalhada, alimentou também a imaginação de escritores brasileiros.
Tanto os delírios ideológicos de Policarpo Quaresma quanto os tristes desenganos do capitão Vitorino foram forjados com o mesmo barro com que Cervantes moldou sua criatura. Muitos cordelistas nordestinos também cantaram as aventuras da famosa dupla como J. Borges e Jô Oliveira, com Quixote em cordel.
A literatura infantil também foi generosamente contemplada com as barafundas desse herói trágico. Não podemos nos esquecer de Monteiro Lobato, com Dom Quixote das crianças, além dos quadrinhos bem-humorados do cartunista Caco Galhardo.
Também o dramaturgo luso-brasileiro Antônio José da Silva, mais conhecido como o Judeu, seguiu as trilhas de Quixote para recriá-lo, no século XVIII, pela irreverência e pela subversão, na interessante comédia intitulada A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança.

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Peça escrita em 1733, A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança subiu aos palcos de Lisboa, no popular Bairro Alto, para alegria de um público ávido pelas brincadeiras e barafundas do então já conhecido e estimado Antônio José, mais popularmente chamado de “o Judeu”.
Suas comédias populares eram encenadas por meio de bonifrates de cortiça, confeccionados por ele mesmo. Muitas das cenas e diálogos que aparecem nesta peça são críticas à famigerada Inquisição e também denúncias de um sistema político-social degradante que imperava em Portugal no século XVIII. Perseguido pela Inquisição, Antônio José morreu queimado em um Auto de fé.
Ao longo da peça, num misto de cenas ora faladas ora cantadas, o leitor irá se deparar com algumas árias, coros e minuetos. Afinal, trata-se de uma opereta joco-séria, representada por grandes bonecos articulados de cortiça, a qual dialoga tanto com a ópera bufa italiana como com as zarzuelas espanholas.
Michel Foucault, em As palavras e as coisas, observa que Dom Quixote, protagonista de uma das primeiras grandes obras modernas, foi estruturado por Cervantes na trilha da descontinuidade e da ruptura. Quixote, complementa Foucault, constitui-se de palavras “entrecruzadas”, tornando-se uma “escrita errante no mundo”.
Mas, o Cavaleiro da Triste Figura não é somente o personagem da cisão e do rompimento. Ele é também um homem delirante, um louco, “entendido não como doente, mas como um desvio constituído e mantido como função cultural indispensável”.
Tão indispensável, acrescentamos, que não são poucos os grandes nomes da literatura ocidental que se deixaram seduzir pelos desvios, os delírios e as rupturas alopradas deste fidalgo aventureiro. De Miguel de Unamuno a Kafka; de Borges a Drummond; de Dostoievski a Byron, são inúmeros os autores, leitores de Cervantes, que reelaboraram as alegres sandices de Quixote e Sancho.
Essa dupla, aparentemente atrapalhada, alimentou também a imaginação de escritores brasileiros.
Tanto os delírios ideológicos de Policarpo Quaresma quanto os tristes desenganos do capitão Vitorino foram forjados com o mesmo barro com que Cervantes moldou sua criatura. Muitos cordelistas nordestinos também cantaram as aventuras da famosa dupla como J. Borges e Jô Oliveira, com Quixote em cordel.
A literatura infantil também foi generosamente contemplada com as barafundas desse herói trágico. Não podemos nos esquecer de Monteiro Lobato, com Dom Quixote das crianças, além dos quadrinhos bem-humorados do cartunista Caco Galhardo.
Também o dramaturgo luso-brasileiro Antônio José da Silva, mais conhecido como o Judeu, seguiu as trilhas de Quixote para recriá-lo, no século XVIII, pela irreverência e pela subversão, na interessante comédia intitulada A vida de Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança.

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