A Luta Corporal

Publicado em 1954, A Luta Corporal é o segundo livro de poemas de Ferreira Gullar. Foi com essa obra que o jovem poeta chamou atenção na cena literária brasileira, despertando o interesse de Oswald de Andrade e dos poetas concretistas Haroldo e Augusto de Campos, de quem se aproximou.


Alguns poemas desintegravam a sintaxe e se preocupavam com a disposição gráfica do verso na página. Além de experimentos estéticos radicais, os poemas trazem uma reflexão sobre o tempo e a morte, assinalando a entrada de uma voz autoral e potente na poesia brasileira.

Dos vinte aos 23 anos, escrevi os poemas que vieram a constituir A Luta Corporal. Publiquei o livro em 1954, à minha custa, impresso na gráfica da revista O Cruzeiro. A diagramação, feita por mim, valorizando o branco da página, mereceu elogios do poeta João Cabral de Melo Neto, que, na época, mantinha uma seção de livros no vespertino A Vanguarda, fundado por Joel Silveira.
Nos primeiros três meses quase ninguém se manifestou sobre o livro, mas, de repente, começaram a aparecer os artigos, alguns muito elogiosos — como o de José Geraldo Vieira, Maria de Lurdes Teixeira e Oliveira Bastos — outros bastante negativos, como o de Carrera Guerra, denunciando minha poesia como uma “flor podre da burguesia”.
Em compensação, Rubem Braga transcreveu o poema “Galo galo” na prestigiosa página que mantinha na revista Manchete com o título “A poesia é necessária”.
Lá se vão mais de quarenta anos desde a série Poemas portugueses, escrita ainda em São Luís do Maranhão e que é o começo da aventura. Tento rever-me naqueles dias distantes, ardendo nas indagações e perplexidades com que me deparava a cada momento.
A existência não tinha sentido; tinha beleza, uma beleza maldita, tocada pelo fulgor da morte. Como um condenado à pena capital, vivi alucinadamente aqueles dias e poemas que culminaram com a implosão da linguagem poética em “Roçzeiral”, escrito em estado de quase delírio.
Eufórico, experimentei assim a ilusão de me ter libertado dos limites da sintaxe, dos limites do real. Depois, caí em mim, e achei que simplesmente havia destruído meu instrumento de expressão e assassinado a poesia.
Era uma aventura que chegara ao fim. Mistura de faina poética e solidão, de deslumbramentos verbais e desamparo, vividos em quartos sórdidos, becos, praças, da Lapa, da Glória, do Catete, por onde eu vagabundava. Meu consolo era admitir que os poemas intensos que eu levava nos bolsos do paletó encardido, um dia, quem sabe, abalariam as pessoas.

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Publicado em 1954, A Luta Corporal é o segundo livro de poemas de Ferreira Gullar. Foi com essa obra que o jovem poeta chamou atenção na cena literária brasileira, despertando o interesse de Oswald de Andrade e dos poetas concretistas Haroldo e Augusto de Campos, de quem se aproximou.
Alguns poemas desintegravam a sintaxe e se preocupavam com a disposição gráfica do verso na página. Além de experimentos estéticos radicais, os poemas trazem uma reflexão sobre o tempo e a morte, assinalando a entrada de uma voz autoral e potente na poesia brasileira.

Dos vinte aos 23 anos, escrevi os poemas que vieram a constituir A Luta Corporal. Publiquei o livro em 1954, à minha custa, impresso na gráfica da revista O Cruzeiro. A diagramação, feita por mim, valorizando o branco da página, mereceu elogios do poeta João Cabral de Melo Neto, que, na época, mantinha uma seção de livros no vespertino A Vanguarda, fundado por Joel Silveira.
Nos primeiros três meses quase ninguém se manifestou sobre o livro, mas, de repente, começaram a aparecer os artigos, alguns muito elogiosos — como o de José Geraldo Vieira, Maria de Lurdes Teixeira e Oliveira Bastos — outros bastante negativos, como o de Carrera Guerra, denunciando minha poesia como uma “flor podre da burguesia”.
Em compensação, Rubem Braga transcreveu o poema “Galo galo” na prestigiosa página que mantinha na revista Manchete com o título “A poesia é necessária”.
Lá se vão mais de quarenta anos desde a série Poemas portugueses, escrita ainda em São Luís do Maranhão e que é o começo da aventura. Tento rever-me naqueles dias distantes, ardendo nas indagações e perplexidades com que me deparava a cada momento.
A existência não tinha sentido; tinha beleza, uma beleza maldita, tocada pelo fulgor da morte. Como um condenado à pena capital, vivi alucinadamente aqueles dias e poemas que culminaram com a implosão da linguagem poética em “Roçzeiral”, escrito em estado de quase delírio.
Eufórico, experimentei assim a ilusão de me ter libertado dos limites da sintaxe, dos limites do real. Depois, caí em mim, e achei que simplesmente havia destruído meu instrumento de expressão e assassinado a poesia.
Era uma aventura que chegara ao fim. Mistura de faina poética e solidão, de deslumbramentos verbais e desamparo, vividos em quartos sórdidos, becos, praças, da Lapa, da Glória, do Catete, por onde eu vagabundava. Meu consolo era admitir que os poemas intensos que eu levava nos bolsos do paletó encardido, um dia, quem sabe, abalariam as pessoas.

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