O Campo E A Cidade Na Literatura Brasileira

Toda literatura sempre faz parte do patrimônio cultural de um povo. Afinal de contas, nenhuma língua é propriedade privada desta ou daquela corporação. Ainda que os manuais de linguística consignem o conceito do idioleto (a linguagem exclusiva de um único indivíduo), não existe, na prática, nenhuma língua individual.

A expressão verbal humana, bem o sabemos, é fruto da interação social. Ao contrário do que supõe o pensamento idealista, segundo o qual a categoria fundadora da história é a linguagem, esta constitui, em última instância, um produto do laborioso processo de construção da humanidade por meio do intercâmbio social, engendrado pela necessidade de produção da vida, conforme tão bem descreveram Friedrich Engels e Karl Marx em A ideologia alemã. Portanto, as línguas e as literaturas são um produto social, compartilhado por membros de uma comunidade que costuma servir-se de tal produção como se ela fosse a sua própria “carteira de identidade”.
O linguista britânico M. Halliday frisa que, mesmo que um indivíduo domine e empregue vários idiomas, a sua língua materna, com a qual satisfará todas as tarefas que exijam o uso de uma linguagem, só pode ser definida pelo grupo social que ele integra; ou, como diria o poeta, “minha pátria é minha língua”.
Como a história do homo sapiens tem sido a história da luta de classes, nenhuma atividade humana pôde dissociar-se das mazelas advindas do caráter desigual e contraditório de nossas sociedades. Dessa forma, por força das distorções empreendidas pela ideologia dominante, aquilo que costuma ser designado como uma literatura nacional termina por ser, quase sempre, apenas a produção literária reconhecida pelas elites de uma nação ou etnia. Conforme já denunciaram inúmeros historiadores, a memória oficial de uma sociedade registra tão-somente os relatos dos vencedores. Por isso, quando algumas das mais pródigas e férteis criações do nosso povo são agrupadas sob o pomposo título de Literatura Brasileira, convém examinar com rigor a amplitude e abrangência desse conceito. Se o aparelho estatal de um Estado capitalista periférico como o nosso o converte em uma disciplina “escolar”, por exemplo, a cautela deverá ser redobrada.

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Toda literatura sempre faz parte do patrimônio cultural de um povo. Afinal de contas, nenhuma língua é propriedade privada desta ou daquela corporação. Ainda que os manuais de linguística consignem o conceito do idioleto (a linguagem exclusiva de um único indivíduo), não existe, na prática, nenhuma língua individual. A expressão verbal humana, bem o sabemos, é fruto da interação social. Ao contrário do que supõe o pensamento idealista, segundo o qual a categoria fundadora da história é a linguagem, esta constitui, em última instância, um produto do laborioso processo de construção da humanidade por meio do intercâmbio social, engendrado pela necessidade de produção da vida, conforme tão bem descreveram Friedrich Engels e Karl Marx em A ideologia alemã. Portanto, as línguas e as literaturas são um produto social, compartilhado por membros de uma comunidade que costuma servir-se de tal produção como se ela fosse a sua própria “carteira de identidade”.
O linguista britânico M. Halliday frisa que, mesmo que um indivíduo domine e empregue vários idiomas, a sua língua materna, com a qual satisfará todas as tarefas que exijam o uso de uma linguagem, só pode ser definida pelo grupo social que ele integra; ou, como diria o poeta, “minha pátria é minha língua”.
Como a história do homo sapiens tem sido a história da luta de classes, nenhuma atividade humana pôde dissociar-se das mazelas advindas do caráter desigual e contraditório de nossas sociedades. Dessa forma, por força das distorções empreendidas pela ideologia dominante, aquilo que costuma ser designado como uma literatura nacional termina por ser, quase sempre, apenas a produção literária reconhecida pelas elites de uma nação ou etnia. Conforme já denunciaram inúmeros historiadores, a memória oficial de uma sociedade registra tão-somente os relatos dos vencedores. Por isso, quando algumas das mais pródigas e férteis criações do nosso povo são agrupadas sob o pomposo título de Literatura Brasileira, convém examinar com rigor a amplitude e abrangência desse conceito. Se o aparelho estatal de um Estado capitalista periférico como o nosso o converte em uma disciplina “escolar”, por exemplo, a cautela deverá ser redobrada.

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