Alceste

Tem esta bela tragédia de Eurípedes, por principal objetivo, a exaltação do amor conjugal que atinge o mais sublime heroísmo.
Alceste, Laodâmia e Penélope, esposas de Admeto, Protesilau e Ulisses, respectivamente, constituem o tríptico das mais nobres figuras femininas que a lenda grega nos apresenta.

Das três, porém, coube à incomparável rainha de Feres praticar o rasgo de abnegação que lhe assegura a primazia entre as esposas modelares.
Enumerando, no canto II da Ilíada, os contingentes helênicos aliados na luta contra a poderosa Tróia, Homero menciona os guerreiros de Feres, Glafira e Iólcos, sob o comando de Eumélio, filho querido de Admeto e de Alceste, a quem o grande aedo considera “a glória das mulheres”, e “a mais nobre descendente de Pélias”. Platão vai além, quando assevera que os próprios deuses consideraram tão belo o auto-sacrifício de Alceste, que lhe concederam o privilégio excepcional de retornar da sepultura à vida. “Os numes honraram nela a virtude máxima do amor”, — conclui o filósofo. E é de crer que a lembrança de Alceste houvesse inspirado a Shakespeare esta afirmação, que ele atribui ao infeliz rei Lear: “Upon such sacrifices, my Cordelia, The Gods themselves throw incense!”
A tragédia de Eurípedes, que se inicia por um monólogo do deus Apolo ao deixar o palácio de Admeto, e pela acrimoniosa discussão que essa benfazeja divindade sustenta com o executor implacável da Morte, — não nos proporciona surpresa alguma decorrente de intriga ou artifício. A ação transcorre natural e logicamente até o desfecho. O poeta mantém sempre alcandorado o estilo, sem que as falas das personagens e as odes corais percam o alto teor do sentimento e da melancolia. Por isso mesmo, alguns tradutores e escoliastas estranham as duas únicas passagens em que a atenção se desvia, por alguns momentos, do episódio capital: tais são a fala do servo que descreve os excessos de plutonaria e a intemperança de Hércules, — que cantava aos berros no recesso de um lar ferido pelo luto, — e a cena em que Admeto deblatera com o pai valetudinário, agredindo-se ambos com amargas diatribes, quando mãos piedosas já transportam ao jazigo o ataúde que contém o corpo inanimado de Alceste.

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Enumerando, no canto II da Ilíada, os contingentes helênicos aliados na luta contra a poderosa Tróia, Homero menciona os guerreiros de Feres, Glafira e Iólcos, sob o comando de Eumélio, filho querido de Admeto e de Alceste, a quem o grande aedo considera “a glória das mulheres”, e “a mais nobre descendente de Pélias”. Platão vai além, quando assevera que os próprios deuses consideraram tão belo o auto-sacrifício de Alceste, que lhe concederam o privilégio excepcional de retornar da sepultura à vida. “Os numes honraram nela a virtude máxima do amor”, — conclui o filósofo. E é de crer que a lembrança de Alceste houvesse inspirado a Shakespeare esta afirmação, que ele atribui ao infeliz rei Lear: “Upon such sacrifices, my Cordelia, The Gods themselves throw incense!”
A tragédia de Eurípedes, que se inicia por um monólogo do deus Apolo ao deixar o palácio de Admeto, e pela acrimoniosa discussão que essa benfazeja divindade sustenta com o executor implacável da Morte, — não nos proporciona surpresa alguma decorrente de intriga ou artifício. A ação transcorre natural e logicamente até o desfecho. O poeta mantém sempre alcandorado o estilo, sem que as falas das personagens e as odes corais percam o alto teor do sentimento e da melancolia. Por isso mesmo, alguns tradutores e escoliastas estranham as duas únicas passagens em que a atenção se desvia, por alguns momentos, do episódio capital: tais são a fala do servo que descreve os excessos de plutonaria e a intemperança de Hércules, — que cantava aos berros no recesso de um lar ferido pelo luto, — e a cena em que Admeto deblatera com o pai valetudinário, agredindo-se ambos com amargas diatribes, quando mãos piedosas já transportam ao jazigo o ataúde que contém o corpo inanimado de Alceste.

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