Stella Manhattan

Silviano Santiago - Stella Manhattan

A arte e a ditadura são eixos básicos de Stella Manhattan, publicado em 1985 – ano que representa um marco divisório na história brasileira, pois nele finalmente terminou o regime militar que durara vinte e um anos.
O contexto literário, no qual a narrativa se insere, é também marcado por mudanças significativas.


Na década anterior, em consequência do processo da “abertura lenta, gradual e segura”, anunciada pelo Governo Geisel em 1974, a ficção brasileira registrava a predominância de linhas realista-naturalista e memorialista.
Estas privilegiavam sobretudo os gêneros que, com o objetivo de “resistir, documentando”, denunciavam a repressão política e frequentemente empregavam a linguagem jornalística: o romance-reportagem, o conto-notícia ou o testemunho.
No entanto, em meados dos anos 80, começam a surgir narrativas que apresentam traços da estética do chamado pós-modernismo: adotam o discurso metaficcional problematizando o próprio processo de criação artística, trabalham com a intertextualidade, hibridez genérica e polifonia, aproveitam-se de elementos da cultura popular, exploram o tema da fragmentação do sujeito na sociedade de consumo, introduzem a problemática de identidades culturais marginalizadas, oferecem a perspetiva de vozes silenciadas pela história oficial.
O romance Stella Manhattan, de Silviano Santiago, pode ser considerado como uma síntese perfeita das tendências acima mencionadas. É uma obra que apresenta vários traços da estética pós-moderna, entrando num implícito diálogo intertextual com o ensaio do próprio autor intitulado “O narrador pós-modereno”.
Neste, Santiago tece reflexões acerca da diferença entre o narrador clássico, que transmite ao leitor a experiência por ele vivida, e o narrador pós-moderno, que abdica deste objetivo, concentrando-se no olhar e na captação das vivências dos outros: “Ele narra a ação enquanto espetáculo a que assiste (literalmente ou não) da plateia, da arquibancada ou de uma poltrona na sala de estar ou na biblioteca; ele não narra enquanto atuante”.
De acordo com estas teorias, Santiago, em Stella Manhattan, constrói um narrador pós-moderno exemplar. Ele distancia-se das personagens, observando-as em situações descontínuas, captando apenas fragmentos das suas falas, gestos, comportamentos. Oferece não somente o seu próprio olhar, mas uma pluralidade de perspectivas, uma polifonia de vozes díspares.
Traz à tona os valores dos espaços periféricos, deslocados dos centros hegemônicos. Cria um texto desarticulado e aberto, interpenetrado por múltiplas referências à cultura contemporânea; um texto auto-referencial, que sublinha o seu caráter enquanto um artefato.

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Silviano Santiago – Stella Manhattan

A arte e a ditadura são eixos básicos de Stella Manhattan, publicado em 1985 – ano que representa um marco divisório na história brasileira, pois nele finalmente terminou o regime militar que durara vinte e um anos.
O contexto literário, no qual a narrativa se insere, é também marcado por mudanças significativas.
Na década anterior, em consequência do processo da “abertura lenta, gradual e segura”, anunciada pelo Governo Geisel em 1974, a ficção brasileira registrava a predominância de linhas realista-naturalista e memorialista.
Estas privilegiavam sobretudo os gêneros que, com o objetivo de “resistir, documentando”, denunciavam a repressão política e frequentemente empregavam a linguagem jornalística: o romance-reportagem, o conto-notícia ou o testemunho.
No entanto, em meados dos anos 80, começam a surgir narrativas que apresentam traços da estética do chamado pós-modernismo: adotam o discurso metaficcional problematizando o próprio processo de criação artística, trabalham com a intertextualidade, hibridez genérica e polifonia, aproveitam-se de elementos da cultura popular, exploram o tema da fragmentação do sujeito na sociedade de consumo, introduzem a problemática de identidades culturais marginalizadas, oferecem a perspetiva de vozes silenciadas pela história oficial.
O romance Stella Manhattan, de Silviano Santiago, pode ser considerado como uma síntese perfeita das tendências acima mencionadas. É uma obra que apresenta vários traços da estética pós-moderna, entrando num implícito diálogo intertextual com o ensaio do próprio autor intitulado “O narrador pós-modereno”.
Neste, Santiago tece reflexões acerca da diferença entre o narrador clássico, que transmite ao leitor a experiência por ele vivida, e o narrador pós-moderno, que abdica deste objetivo, concentrando-se no olhar e na captação das vivências dos outros: “Ele narra a ação enquanto espetáculo a que assiste (literalmente ou não) da plateia, da arquibancada ou de uma poltrona na sala de estar ou na biblioteca; ele não narra enquanto atuante”.
De acordo com estas teorias, Santiago, em Stella Manhattan, constrói um narrador pós-moderno exemplar. Ele distancia-se das personagens, observando-as em situações descontínuas, captando apenas fragmentos das suas falas, gestos, comportamentos. Oferece não somente o seu próprio olhar, mas uma pluralidade de perspectivas, uma polifonia de vozes díspares.
Traz à tona os valores dos espaços periféricos, deslocados dos centros hegemônicos. Cria um texto desarticulado e aberto, interpenetrado por múltiplas referências à cultura contemporânea; um texto auto-referencial, que sublinha o seu caráter enquanto um artefato.

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