O Brilho Da inFelicidade

Poucas são as vezes· em que encontramos nos textos de Freud e Lacan referências sobre as toxicomanias ou o alcoolismo.
Entretanto a genialidade de ambos fez do pouco que disseram preciosas revelações.


Freud retoma do poeta Bockling uma observação: a que designava a ligação do bebedor com o vinho como o modelo do casamento feliz, pois "por não comportar nenhuma alteridade sexual ao seu programa, tal casamento outorga àquele que com ele se compromete, a certeza de nunca correr o risco de ser acusado pelo parceiro de ter usurpado seus direitos ou ter falhado em seus deveres". Aqui não se trata de, ao oferecer-se à conquista, poder obter a recusa. A satisfação obtida conduz a um gozo auto-induzido, monocultivado e imediato. Trata-se do gozo do Mesmo.
Na segunda de suas "Contribuições à psicologia da vida amorosa", Freud trata a "relação do bebedor com o vinho" como exceção tanto para as modalidades da escolha do objeto quanto para as condições da relação de amor. Tanto a clivagem mãe-puta, significações contra o incesto, quanto as condições que este produz não comparecem na relação do bebedor com o vinho; esta relação faz exceção. Dito de outro modo, esta relação não procede de nenhuma clivagem e nem de nenhuma disjunção entre o amor e o desejo. O laço com o vinho é tão bem estabelecido que obtura as falhas às quais comumente o homem se apega. Nesta parceria o objeto não está fora de alcance; o sujeito goza de seu objeto de forma satisfatória, o que faz do bebedor um amante atípico: um amante saciado, satisfeito por seu objeto.
A frase de Freud diz ter o bebedor substituído a mulher pelo vinho. Ele o colocou no lugar em que se teria visto confrontado com o abismo feminino. O vinho não é uma mulher. Uma mulher é Outra e o vinho é Um. Como Outra para o sujeito, ela aparece sendo do Outro; por exemplo, nos delírios de ciúme dos alcoolistas. Já o vinho é do sujeito e se sustenta como gozo do Um.
Desejar uma mulher é ser causado por uma alteridade; o vinho é garantia contra a castração ao se apresentar como sendo o mesmo.

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Poucas são as vezes· em que encontramos nos textos de Freud e Lacan referências sobre as toxicomanias ou o alcoolismo.
Entretanto a genialidade de ambos fez do pouco que disseram preciosas revelações.
Freud retoma do poeta Bockling uma observação: a que designava a ligação do bebedor com o vinho como o modelo do casamento feliz, pois “por não comportar nenhuma alteridade sexual ao seu programa, tal casamento outorga àquele que com ele se compromete, a certeza de nunca correr o risco de ser acusado pelo parceiro de ter usurpado seus direitos ou ter falhado em seus deveres”. Aqui não se trata de, ao oferecer-se à conquista, poder obter a recusa. A satisfação obtida conduz a um gozo auto-induzido, monocultivado e imediato. Trata-se do gozo do Mesmo.
Na segunda de suas “Contribuições à psicologia da vida amorosa”, Freud trata a “relação do bebedor com o vinho” como exceção tanto para as modalidades da escolha do objeto quanto para as condições da relação de amor. Tanto a clivagem mãe-puta, significações contra o incesto, quanto as condições que este produz não comparecem na relação do bebedor com o vinho; esta relação faz exceção. Dito de outro modo, esta relação não procede de nenhuma clivagem e nem de nenhuma disjunção entre o amor e o desejo. O laço com o vinho é tão bem estabelecido que obtura as falhas às quais comumente o homem se apega. Nesta parceria o objeto não está fora de alcance; o sujeito goza de seu objeto de forma satisfatória, o que faz do bebedor um amante atípico: um amante saciado, satisfeito por seu objeto.
A frase de Freud diz ter o bebedor substituído a mulher pelo vinho. Ele o colocou no lugar em que se teria visto confrontado com o abismo feminino. O vinho não é uma mulher. Uma mulher é Outra e o vinho é Um. Como Outra para o sujeito, ela aparece sendo do Outro; por exemplo, nos delírios de ciúme dos alcoolistas. Já o vinho é do sujeito e se sustenta como gozo do Um.
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