O Que É Filosofia

Ser filósofo ou fazer filosofia costuma significar, na nossa vida cotidiana, ver ou perceber o mundo para além ou aquém da nossa experiência comum. O filósofo é muitas vezes o “metafísico”, ou seja, aquele cujo saber está além da experiência sensível

, do aqui e agora das nossas determinações espaço-temporais. Mas o filósofo é também aquele que diz libertar a nossa compreensão do mundo e a nossa linguagem comum dos devaneios da razão especulativa que, incessantemente, nos lança para além dos limites do mundo inteligível. Quem é o filósofo afinal?'

Apesar de todas as possibilidades de se chegar a um acordo relativo a um conceito unitário de filosofia, devo agora fazer uma tentativa de esboçar o que se quer dizer com essa palavra. É inevitável que nem todos possam se pôr de acordo acerca do mesmo. O critério decisivo deve ser aqui que o máximo possível do que historicamente se considerou filosofia caia sob tal conceito. O que é então filosofia?
Talvez a maneira menos capciosa possível de proceder consista em partir de algumas determinações do conceito de filosofia fornecidas por reconhecidamente grandes filósofos. Uma maneira muito concisa de fazê-lo encontramos em Husserl (Meditações Cartesianas): a filosofia é designada como uma “ciência universal a partir de uma fundamentação absoluta”. Uma determinação semelhante encontramos em Hegel no começo de sua Enciclopédia, embora em Hegel tanto o conceito de universalidade quanto o de fundamentação absoluta sejam entendidos de forma bastante diferente de Husserl. Faz perfeitamente sentido deixar a princípio os conceitos que ocorrem em tal determinação um tanto quanto vagos. O importante é o seguinte: tanto Husserl como Hegel entendem a filosofia, primeiro, como ciência (este, pois, é o conceito superior), e, em seguida, distinguem-na das demais ciências quanto ao conteúdo1 e ao método2. Quanto ao conteúdo: ela é, como diz Husserl, universal; de algum modo ela visa o todo. Quanto ao método: o ponto de vista da fundamentação é radicalizado.
Se voltarmos bem atrás na história, até Platão e Aristóteles, encontraremos em Aristóteles, nos dois primeiros capítulos da Metafísica, uma determinação bastante semelhante: uma ciência mais alta que as demais, e isso deve significar uma ciência que contenha na mais alta medida as propriedades características das ciências: universalidade e fundamentação.
Façamos, contudo, mais uma amostragem: Kant. Aqui as coisas as ficam um pouco mais complicadas. Kant faz, na Crítica da Razão Pura (B 866), uma distinção entre um “conceito da escola” (Schulbegriff) e um “conceito do mundo” (Weltbegriff) de filosofia. O “conceito de escola” diz: a filosofia é “o sistema (...) dos conhecimentos racionais a partir de conceitos”. O que isso deve significar não é, sem mais, compreensível.

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Ser filósofo ou fazer filosofia costuma significar, na nossa vida cotidiana, ver ou perceber o mundo para além ou aquém da nossa experiência comum. O filósofo é muitas vezes o “metafísico”, ou seja, aquele cujo saber está além da experiência sensível, do aqui e agora das nossas determinações espaço-temporais. Mas o filósofo é também aquele que diz libertar a nossa compreensão do mundo e a nossa linguagem comum dos devaneios da razão especulativa que, incessantemente, nos lança para além dos limites do mundo inteligível. Quem é o filósofo afinal?’

Apesar de todas as possibilidades de se chegar a um acordo relativo a um conceito unitário de filosofia, devo agora fazer uma tentativa de esboçar o que se quer dizer com essa palavra. É inevitável que nem todos possam se pôr de acordo acerca do mesmo. O critério decisivo deve ser aqui que o máximo possível do que historicamente se considerou filosofia caia sob tal conceito. O que é então filosofia?
Talvez a maneira menos capciosa possível de proceder consista em partir de algumas determinações do conceito de filosofia fornecidas por reconhecidamente grandes filósofos. Uma maneira muito concisa de fazê-lo encontramos em Husserl (Meditações Cartesianas): a filosofia é designada como uma “ciência universal a partir de uma fundamentação absoluta”. Uma determinação semelhante encontramos em Hegel no começo de sua Enciclopédia, embora em Hegel tanto o conceito de universalidade quanto o de fundamentação absoluta sejam entendidos de forma bastante diferente de Husserl. Faz perfeitamente sentido deixar a princípio os conceitos que ocorrem em tal determinação um tanto quanto vagos. O importante é o seguinte: tanto Husserl como Hegel entendem a filosofia, primeiro, como ciência (este, pois, é o conceito superior), e, em seguida, distinguem-na das demais ciências quanto ao conteúdo1 e ao método2. Quanto ao conteúdo: ela é, como diz Husserl, universal; de algum modo ela visa o todo. Quanto ao método: o ponto de vista da fundamentação é radicalizado.
Se voltarmos bem atrás na história, até Platão e Aristóteles, encontraremos em Aristóteles, nos dois primeiros capítulos da Metafísica, uma determinação bastante semelhante: uma ciência mais alta que as demais, e isso deve significar uma ciência que contenha na mais alta medida as propriedades características das ciências: universalidade e fundamentação.
Façamos, contudo, mais uma amostragem: Kant. Aqui as coisas as ficam um pouco mais complicadas. Kant faz, na Crítica da Razão Pura (B 866), uma distinção entre um “conceito da escola” (Schulbegriff) e um “conceito do mundo” (Weltbegriff) de filosofia. O “conceito de escola” diz: a filosofia é “o sistema (…) dos conhecimentos racionais a partir de conceitos”. O que isso deve significar não é, sem mais, compreensível.

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