A Fala Do Santo

Era uma vez... Não. Não era assim que meus mais-velhos começavam a contar histórias. Só nos livros e na Escola de Dona Elvira, a contação tinha era uma vez... Lá em casa, as histórias começavam assim: Contavam os mais-velhos que...


E eu me criei entre esses dois mundos, tão diferentes entre si. O mundo de lá era o do meu pai, da escola, do catecismo de Dona Amália, da cultura dos brancos. Enfim, da escrita. O de cá era o da minha mãe, dos bate-papos em família, dos terreiros de candomblé, da tradição oral afro-descendente.
Lá, os sabidos eram Dona Elvira e o meu pai com Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, as fábulas de Esopo, os contos de Monteiro Lobato. Cá, os sábios eram Tia Jovanina, minha mãe e Compadre Roque com as histórias dos orixás. Com os primeiros, aprendi Português, Matemática, História, Geografia... Com os segundos, aprendi a vida.
Veja como são as coisas... Aqui, no Brasil, a gente terminou colocando uma barreira entre mundos desses dois tipos, os de lá e os de cá. Aí, ficou o espaço público de um lado e o espaço privado de outro. Isso resultou num sistema de educação em que a vida, com todos os seus altos e baixos, é deixada de lado.
E ensinam à gente tanta coisa que nunca vai servir para nada. Enquanto isso, é negado um bocado de coisa, que realmente faz parte da vida, quando não se diz: “coisa de gente atrasada”. Então, você, eu, todo mundo tem passado por isso: aprender de maneira dividida. Termina a Escola desconhecendo ou negando o saber de dentro de casa, o que é mais grave ainda.
Por falar em casa, na minha casa, o pessoal gostava de conversar. Após o almoço do domingo, todo mundo já sabia: conversar, contar caso e dar risada. Às vezes, a domingada demorava tanto que emendava com o jantar. Foi nesse mundo de cá, que eu aprendi os itans.

  

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Era uma vez… Não. Não era assim que meus mais-velhos começavam a contar histórias. Só nos livros e na Escola de Dona Elvira, a contação tinha era uma vez… Lá em casa, as histórias começavam assim: Contavam os mais-velhos que…
E eu me criei entre esses dois mundos, tão diferentes entre si. O mundo de lá era o do meu pai, da escola, do catecismo de Dona Amália, da cultura dos brancos. Enfim, da escrita. O de cá era o da minha mãe, dos bate-papos em família, dos terreiros de candomblé, da tradição oral afro-descendente.
Lá, os sabidos eram Dona Elvira e o meu pai com Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, as fábulas de Esopo, os contos de Monteiro Lobato. Cá, os sábios eram Tia Jovanina, minha mãe e Compadre Roque com as histórias dos orixás. Com os primeiros, aprendi Português, Matemática, História, Geografia… Com os segundos, aprendi a vida.
Veja como são as coisas… Aqui, no Brasil, a gente terminou colocando uma barreira entre mundos desses dois tipos, os de lá e os de cá. Aí, ficou o espaço público de um lado e o espaço privado de outro. Isso resultou num sistema de educação em que a vida, com todos os seus altos e baixos, é deixada de lado.
E ensinam à gente tanta coisa que nunca vai servir para nada. Enquanto isso, é negado um bocado de coisa, que realmente faz parte da vida, quando não se diz: “coisa de gente atrasada”. Então, você, eu, todo mundo tem passado por isso: aprender de maneira dividida. Termina a Escola desconhecendo ou negando o saber de dentro de casa, o que é mais grave ainda.
Por falar em casa, na minha casa, o pessoal gostava de conversar. Após o almoço do domingo, todo mundo já sabia: conversar, contar caso e dar risada. Às vezes, a domingada demorava tanto que emendava com o jantar. Foi nesse mundo de cá, que eu aprendi os itans.

  

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