Breviário De Estética

Quem se abeira hoje de obras de síntese como o Breviário de Estética e a A esthetica in nuce, nas quais o pensamento de Croce se desenha com firmes contornos, divisa, ao mesmo tempo, o itinerário polêmico percorrido pelo filósofo antes de aportar às fórmulas lapidares desses textos de maturidade.

E como a história das ideias não se cumpre sem passar pelos embates da diferença e da contradição, convém remontar às origens da Estética de Croce para compreender em que consistiram as suas conquistas teóricas que só o contraste com outras correntes pode aclarar.
Quando o jovem filósofo se dispôs, a cavaleiro do século XX, a enfrentar o problema crucial do conceito de arte, o pensamento estético oscilava entre duas posições de igual força: um modelo racionalista escorado na convicção de que o texto poético é a manifestação sensível de ideias, é metáfora das doutrinas do seu tempo, é alegoria de conceitos e valores; e, no campo contrário, um aglomerado de propostas irracionalistas que viam no ato artístico a projeção da vontade-de-viver, da vontade-de-poder, do desejo ou da sensibilidade tomada em sentido lato.
De um lado, arte como percepção, ideia, valor, signo ideológico, doutrinal. De outro, arte como fenômeno passional, inconsciente, pulsional.
O ato de intuir é um movimento intencional cujo telos é a inteira gama afetiva. Croce tomava para si o lema de Goethe:
No peito a matéria,
A forma na mente.
Como na síntese a priori kantiana: sem o pathos a poesia carece de matéria, é vazia; sem a intuição a poesia carece de forma, é cega.
A intuição, livre exercício da fantasia, Croce denomina "forma auroral do conhecimento", pois ela precede a percepção, e desta não depende. Se a intuição não precisa do discurso conceituai para desdobrar-se cm imagens, o discurso conceituai pode apelar para imagens próprias do saber poético. A palavra viva e luminosa de Heráclito, de Platão, de Agostinho, de Pascal, de Vico, de Rousseau, de Schopenhauer e de Nietzsche, todos admiráveis escritores, comprova a asserção. O filósofo, vigilante como a coruja noturna, sonha às vezes com as celagens da madrugada.
A imagem ignora o conceito, o conceito não ignora a imagem.
Não é uma relação de reciprocidade, é uma relação de gradualidade: o primeiro degrau não pressupõe o segundo, o segundo pressupõe o primeiro.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Breviário De Estética

Quem se abeira hoje de obras de síntese como o Breviário de Estética e a A esthetica in nuce, nas quais o pensamento de Croce se desenha com firmes contornos, divisa, ao mesmo tempo, o itinerário polêmico percorrido pelo filósofo antes de aportar às fórmulas lapidares desses textos de maturidade. E como a história das ideias não se cumpre sem passar pelos embates da diferença e da contradição, convém remontar às origens da Estética de Croce para compreender em que consistiram as suas conquistas teóricas que só o contraste com outras correntes pode aclarar.
Quando o jovem filósofo se dispôs, a cavaleiro do século XX, a enfrentar o problema crucial do conceito de arte, o pensamento estético oscilava entre duas posições de igual força: um modelo racionalista escorado na convicção de que o texto poético é a manifestação sensível de ideias, é metáfora das doutrinas do seu tempo, é alegoria de conceitos e valores; e, no campo contrário, um aglomerado de propostas irracionalistas que viam no ato artístico a projeção da vontade-de-viver, da vontade-de-poder, do desejo ou da sensibilidade tomada em sentido lato.
De um lado, arte como percepção, ideia, valor, signo ideológico, doutrinal. De outro, arte como fenômeno passional, inconsciente, pulsional.
O ato de intuir é um movimento intencional cujo telos é a inteira gama afetiva. Croce tomava para si o lema de Goethe:
No peito a matéria,
A forma na mente.
Como na síntese a priori kantiana: sem o pathos a poesia carece de matéria, é vazia; sem a intuição a poesia carece de forma, é cega.
A intuição, livre exercício da fantasia, Croce denomina “forma auroral do conhecimento”, pois ela precede a percepção, e desta não depende. Se a intuição não precisa do discurso conceituai para desdobrar-se cm imagens, o discurso conceituai pode apelar para imagens próprias do saber poético. A palavra viva e luminosa de Heráclito, de Platão, de Agostinho, de Pascal, de Vico, de Rousseau, de Schopenhauer e de Nietzsche, todos admiráveis escritores, comprova a asserção. O filósofo, vigilante como a coruja noturna, sonha às vezes com as celagens da madrugada.
A imagem ignora o conceito, o conceito não ignora a imagem.
Não é uma relação de reciprocidade, é uma relação de gradualidade: o primeiro degrau não pressupõe o segundo, o segundo pressupõe o primeiro.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog