Ridículo Político

Infelizmente, Ridículo Político não é um livro sobre algo engraçado, muito menos um livro que faça rir, apesar da impressão à qual o título pode levar. Se o leitor espera divertir-se, deixe-o agora ou cale-se para sempre.


É claro que eu estou brincando, porque o riso é livre e o leitor — esse ser cada vez mais raro que, em tempos de vazio do pensamento, ainda se preocupa em refletir — saberá o que fazer. No entanto, preciso dizer que escrevi o Ridículo Político para chamar a atenção sobre algo muito sério, que é justamente o hábito de não tratar com seriedade as coisas políticas.
Parti da ideia de que certas cenas, e as pessoas nelas envolvidas, mesmo parecendo engraçadas, ou até hilárias em um primeiro momento, na verdade, nos fazem sofrer. Que há uma categoria de coisas risíveis que são, na verdade, sofríveis. Eu tinha em mente a vergonha, que é um sentimento e uma posição moral muito desagradável, mas, sobretudo, eu pensava sobre a vergonha alheia, aquela que sentimos quando presenciamos algo constrangedor, na simples posição de espectador. A partir de uma análise dos nossos sentimentos, poderíamos procurar onde nos esconder. Mas o caso é mais grave. As cenas próprias ao ridículo político nos parecem, muitas vezes, apenas atos involuntários, efeito de ignorância ou ingenuidade, de uma bufonaria natural, embora sirvam ao poder.
São cenas de poder que têm desfigurado a vida social e política. Nessa linha, enquanto alguns se empolgam com a “graça” e a aparência brincalhona ou pouco séria de políticos profissionais e cidadãos (também políticos, como veremos) que se manifestam preconceituosamente em níveis, muitas vezes, fascistas, me parece urgente analisarmos a produção de efeitos estéticos causados pelo poder (por mais poder) na época em que a política se transforma em publicidade e, desacreditada, é deixada à deriva do capital e daqueles que não temem fazer o papel ridículo que serve a cada um.
As cenas do que chamei de Ridículo Político fazem parte da vida pública e correspondem a uma estetização curiosa da política (ou de uma certa forma de fazer política que se tornou tendencial) que vive da manipulação da imagem e da produção de inverdades de todo tipo. O que chamei de “esteticamente correto” é o disfarce do ridículo, o esforço para estar na linha do padrão estético, que invade as relações em nível micro e macropolítico. O esteticamente correto se dá em cumplicidade com toda uma cultura de naturalização do ridículo na qual estamos submersos.

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É claro que eu estou brincando, porque o riso é livre e o leitor — esse ser cada vez mais raro que, em tempos de vazio do pensamento, ainda se preocupa em refletir — saberá o que fazer. No entanto, preciso dizer que escrevi o Ridículo Político para chamar a atenção sobre algo muito sério, que é justamente o hábito de não tratar com seriedade as coisas políticas.
Parti da ideia de que certas cenas, e as pessoas nelas envolvidas, mesmo parecendo engraçadas, ou até hilárias em um primeiro momento, na verdade, nos fazem sofrer. Que há uma categoria de coisas risíveis que são, na verdade, sofríveis. Eu tinha em mente a vergonha, que é um sentimento e uma posição moral muito desagradável, mas, sobretudo, eu pensava sobre a vergonha alheia, aquela que sentimos quando presenciamos algo constrangedor, na simples posição de espectador. A partir de uma análise dos nossos sentimentos, poderíamos procurar onde nos esconder. Mas o caso é mais grave. As cenas próprias ao ridículo político nos parecem, muitas vezes, apenas atos involuntários, efeito de ignorância ou ingenuidade, de uma bufonaria natural, embora sirvam ao poder.
São cenas de poder que têm desfigurado a vida social e política. Nessa linha, enquanto alguns se empolgam com a “graça” e a aparência brincalhona ou pouco séria de políticos profissionais e cidadãos (também políticos, como veremos) que se manifestam preconceituosamente em níveis, muitas vezes, fascistas, me parece urgente analisarmos a produção de efeitos estéticos causados pelo poder (por mais poder) na época em que a política se transforma em publicidade e, desacreditada, é deixada à deriva do capital e daqueles que não temem fazer o papel ridículo que serve a cada um.
As cenas do que chamei de Ridículo Político fazem parte da vida pública e correspondem a uma estetização curiosa da política (ou de uma certa forma de fazer política que se tornou tendencial) que vive da manipulação da imagem e da produção de inverdades de todo tipo. O que chamei de “esteticamente correto” é o disfarce do ridículo, o esforço para estar na linha do padrão estético, que invade as relações em nível micro e macropolítico. O esteticamente correto se dá em cumplicidade com toda uma cultura de naturalização do ridículo na qual estamos submersos.

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