Crise Suicida

Neury José Botega - Crise Suicida: Avaliação E Manejo

A avaliação do risco de suicídio só pode ser concretizada se, antes de qualquer coisa, percebermos que a pessoa diante de nós poderá se matar. Na prática clínica, tal percepção só é possível se estivermos permeáveis à possibilidade de ocorrência de um suicídio, ao qual, de alguma forma, estaremos dolorosamente vinculados.

Isso é perturbador para todos os profissionais de saúde; para alguns, beira o aterrorizante.
Em geral, lutamos pela vida e pensamos na morte de forma genérica e abstrata, como algo distante. O paciente suicida é ameaçador, fere devoções e expectativas. Ao trazer a morte para mais perto, ele desafia subterfúgios existenciais de quem o atende. Por isso, vários mecanismos de defesa psicológica são ativados e se combinam com a finalidade de evitar a percepção desse drama humano e proteger-nos. Aí entram os preconceitos, as crenças, a repulsa automática e a noção que construímos a respeito do que deve permanecer fora de nossa responsabilidade profissional.
Tudo isso pode enrijecer nossa conduta frente aos pacientes, com o abandono de uma postura acolhedora e com o embaçamento da percepção e do raciocínio clínico. Um dos melhores sinalizadores da presença do risco de suicídio é a consciência do avaliador a respeito da própria ansiedade acerca do paciente potencialmente suicida. A incapacidade de experimentar essa ansiedade, decorrente de um contato empático pobre, apressado ou de defesas psíquicas excessivamente fortes, impede a boa avaliação clínica e o trabalho terapêutico.
As investigações que realizamos junto a profissionais de saúde mostram como concepções errôneas e sentimentos negativos em relação ao suicídio condicionam nossas ações. Perdura, por exemplo, o receio de perguntar sobre ideação suicida e, assim, desencadear um suicídio que até então se encontrava latente. Outro receio: e se, feita a pergunta, o paciente responder que sim, que pensa em se matar? Certamente muitos profissionais serão tomados por angústia ao sentirem que, a partir daquele momento, tornam-se responsáveis por uma vida e que terão de fazer alguma coisa para salvá-la. Mas fazer o quê, se sentem que lhes falta tal habilidade?
Além da percepção da limitação na capacidade profissional, a falta de serviços de saúde disponíveis e preparados para o atendimento de pessoas em crise pode inibir a disposição para abordar a temática do suicídio. Diante dessas duas situações dilemáticas – a pergunta potencialmente letal e a impotência angustiante diante de uma resposta afirmativa –, sequer se cogita a possibilidade de o paciente estar se debatendo com ideias suicidas.

  

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

4 respostas

  1. Não estou conseguindo baixar quando clico em PDF.
    Pode me ajudar? Preciso muiito desse livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Crise Suicida

Neury José Botega – Crise Suicida: Avaliação E Manejo

A avaliação do risco de suicídio só pode ser concretizada se, antes de qualquer coisa, percebermos que a pessoa diante de nós poderá se matar. Na prática clínica, tal percepção só é possível se estivermos permeáveis à possibilidade de ocorrência de um suicídio, ao qual, de alguma forma, estaremos dolorosamente vinculados. Isso é perturbador para todos os profissionais de saúde; para alguns, beira o aterrorizante.
Em geral, lutamos pela vida e pensamos na morte de forma genérica e abstrata, como algo distante. O paciente suicida é ameaçador, fere devoções e expectativas. Ao trazer a morte para mais perto, ele desafia subterfúgios existenciais de quem o atende. Por isso, vários mecanismos de defesa psicológica são ativados e se combinam com a finalidade de evitar a percepção desse drama humano e proteger-nos. Aí entram os preconceitos, as crenças, a repulsa automática e a noção que construímos a respeito do que deve permanecer fora de nossa responsabilidade profissional.
Tudo isso pode enrijecer nossa conduta frente aos pacientes, com o abandono de uma postura acolhedora e com o embaçamento da percepção e do raciocínio clínico. Um dos melhores sinalizadores da presença do risco de suicídio é a consciência do avaliador a respeito da própria ansiedade acerca do paciente potencialmente suicida. A incapacidade de experimentar essa ansiedade, decorrente de um contato empático pobre, apressado ou de defesas psíquicas excessivamente fortes, impede a boa avaliação clínica e o trabalho terapêutico.
As investigações que realizamos junto a profissionais de saúde mostram como concepções errôneas e sentimentos negativos em relação ao suicídio condicionam nossas ações. Perdura, por exemplo, o receio de perguntar sobre ideação suicida e, assim, desencadear um suicídio que até então se encontrava latente. Outro receio: e se, feita a pergunta, o paciente responder que sim, que pensa em se matar? Certamente muitos profissionais serão tomados por angústia ao sentirem que, a partir daquele momento, tornam-se responsáveis por uma vida e que terão de fazer alguma coisa para salvá-la. Mas fazer o quê, se sentem que lhes falta tal habilidade?
Além da percepção da limitação na capacidade profissional, a falta de serviços de saúde disponíveis e preparados para o atendimento de pessoas em crise pode inibir a disposição para abordar a temática do suicídio. Diante dessas duas situações dilemáticas – a pergunta potencialmente letal e a impotência angustiante diante de uma resposta afirmativa –, sequer se cogita a possibilidade de o paciente estar se debatendo com ideias suicidas.

  

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

4 respostas

  1. Não estou conseguindo baixar quando clico em PDF.
    Pode me ajudar? Preciso muiito desse livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog