A Consciência Das Palavras

Elias Canetti, prêmio Nobel de Literatura de 1981, é daqueles escritores para quem o ato de escrever é um ato de enorme responsabilidade, como ele mesmo o afirma com todas as letras no ensaio que fecha este volume.

Daí o seu título, A consciência das palavras, sob o qual se acham reunidos textos sobre Confúcio, Georg Büchner, Tolstoi, Kafka, Hermann Broch, Karl Kraus e Hitler, além de uma evocação da tragédia de Hiroxima por intermédio do diário de um de seus sobreviventes ou de reminiscências sobre as origens de seu monumental romance Auto-de-fé.

Neste volume serão apresentados, na ordem em que foram escritos, os ensaios dos anos de 1962 a 1974. À primeira vista, pode parecer estranho encontrar lado a lado figuras como Kafka e Confúcio, Büchner, Tolstói, Karl Kraus e Hitler; catástrofes de terríveis proporções, como a de Hiroxima, e considerações literárias acerca da escrita de diários ou do surgimento de um romance. Mas o que importava para mim era exatamente essa justaposição de assuntos, cuja incompatibilidade é apenas aparente. O público e o privado não mais admitem distinção: interpenetraram-se hoje de uma forma jamais vista no passado. Os inimigos da humanidade conquistaram poder rapidamente, aproximando-se muito de uma meta final que é a destruição da terra, tornando impossível que deles abstraiamos para nos recolhermos unicamente à contemplação de modelos espirituais que possuam ainda algum significado para nós. Esses modelos tornaram-se mais escassos. Muitos daqueles que podem ter bastado a épocas passadas não contêm em si o suficiente, compreendem muito pouco, para que ainda nos possam ser de alguma valia — o que torna ainda mais importante falar daqueles que resistiram também ao nosso século monstruoso.
Porém, ainda que nos fosse possível abarcar modelos e seus antípodas, não teríamos feito o bastante. Creio não ser supérfluo falarmos por nós mesmos — enquanto testemunhas, dentre inúmeras outras, de nosso tempo — descrevendo o esforço que fazemos para dele nos defender. Talvez não pertença meramente à esfera do privado mostrar como alguém, nos dias de hoje, chegou a um romance, se nesse seu ato esteve presente a intenção de realmente confrontar-se com o seu tempo; ou como se propõe a manter um diário, para não ser espiritualmente triturado por sua época.

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Elias Canetti, prêmio Nobel de Literatura de 1981, é daqueles escritores para quem o ato de escrever é um ato de enorme responsabilidade, como ele mesmo o afirma com todas as letras no ensaio que fecha este volume. Daí o seu título, A consciência das palavras, sob o qual se acham reunidos textos sobre Confúcio, Georg Büchner, Tolstoi, Kafka, Hermann Broch, Karl Kraus e Hitler, além de uma evocação da tragédia de Hiroxima por intermédio do diário de um de seus sobreviventes ou de reminiscências sobre as origens de seu monumental romance Auto-de-fé.

Neste volume serão apresentados, na ordem em que foram escritos, os ensaios dos anos de 1962 a 1974. À primeira vista, pode parecer estranho encontrar lado a lado figuras como Kafka e Confúcio, Büchner, Tolstói, Karl Kraus e Hitler; catástrofes de terríveis proporções, como a de Hiroxima, e considerações literárias acerca da escrita de diários ou do surgimento de um romance. Mas o que importava para mim era exatamente essa justaposição de assuntos, cuja incompatibilidade é apenas aparente. O público e o privado não mais admitem distinção: interpenetraram-se hoje de uma forma jamais vista no passado. Os inimigos da humanidade conquistaram poder rapidamente, aproximando-se muito de uma meta final que é a destruição da terra, tornando impossível que deles abstraiamos para nos recolhermos unicamente à contemplação de modelos espirituais que possuam ainda algum significado para nós. Esses modelos tornaram-se mais escassos. Muitos daqueles que podem ter bastado a épocas passadas não contêm em si o suficiente, compreendem muito pouco, para que ainda nos possam ser de alguma valia — o que torna ainda mais importante falar daqueles que resistiram também ao nosso século monstruoso.
Porém, ainda que nos fosse possível abarcar modelos e seus antípodas, não teríamos feito o bastante. Creio não ser supérfluo falarmos por nós mesmos — enquanto testemunhas, dentre inúmeras outras, de nosso tempo — descrevendo o esforço que fazemos para dele nos defender. Talvez não pertença meramente à esfera do privado mostrar como alguém, nos dias de hoje, chegou a um romance, se nesse seu ato esteve presente a intenção de realmente confrontar-se com o seu tempo; ou como se propõe a manter um diário, para não ser espiritualmente triturado por sua época.

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