Dentro Do Segredo

Em 2012, o governo norte-coreano realizou grandes celebrações pelo centenário do falecido ditador Kim Il-sung, pai do regime comunista que controla o país desde 1948.
Nessa ocasião excepcional, um grupo de turistas ocidentais obteve autorização para viajar durante duas semanas num roteiro que incluiu a capital

, Pyongyang, e diversos lugares raramente visitados por estrangeiros.
A possibilidade de conhecer a vida cotidiana dos norte-coreanos estimulou uma antiga curiosidade do escritor português José Luís Peixoto.
Radicalmente contrário a qualquer governo ditatorial, Peixoto mesmo assim embarcou na excursão, pomposamente batizada The Kim Il-sung 100th Birthday Ultimate Mega Tour, para ver e sentir de perto esse país banido do convívio internacional por sua insistência em fabricar armas nucleares.
O resultado de suas experiências como turista na Coreia do Norte é este livro híbrido de relato de viagem e realismo mágico. Imerso no alucinatório culto à personalidade que domina todos os aspectos da cultura norte-coreana, Peixoto viajou pelo país sob a vigilância sorridente dos guias e dos retratos oficiais.
Um clima de pesadelo orwelliano, que contrasta com o discurso triunfalista das autoridades, é o pano de fundo deste percurso fantástico pela distopia inventada por uma caricata dinastia de tiranos.

Eu entendia o ódio com que o guarda da alfândega me olhava. Era um oficial de farda nova e completa, botas engraxadas, patentes brilhantes, talvez sessenta anos, talvez pai de alguém da minha idade. O compartimento tinha quatro lugares. A minha mala estava sobre a cama de cima, à esquerda. Eu estava à espera no corredor do comboio, entre toda a gente que também esperava. Quando chegou a minha vez, entrei. Ele estava de pé, a segurar o meu passaporte aberto à sua frente, como se me comparasse com a fotografia mas sem olhar para ela, apenas a fixar-me, severo, de ferro.
O seu olhar punha o meu corpo inteiro em tensão. Eu entendia essa tensão. Ali, significava ordem. Esse era também o motivo para o aparente ódio, ou desprezo, com que me olhava. Afinal, não era ódio, era disciplina.
Eu entendia a disciplina com que o guarda da alfândega me olhava.

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A possibilidade de conhecer a vida cotidiana dos norte-coreanos estimulou uma antiga curiosidade do escritor português José Luís Peixoto.
Radicalmente contrário a qualquer governo ditatorial, Peixoto mesmo assim embarcou na excursão, pomposamente batizada The Kim Il-sung 100th Birthday Ultimate Mega Tour, para ver e sentir de perto esse país banido do convívio internacional por sua insistência em fabricar armas nucleares.
O resultado de suas experiências como turista na Coreia do Norte é este livro híbrido de relato de viagem e realismo mágico. Imerso no alucinatório culto à personalidade que domina todos os aspectos da cultura norte-coreana, Peixoto viajou pelo país sob a vigilância sorridente dos guias e dos retratos oficiais.
Um clima de pesadelo orwelliano, que contrasta com o discurso triunfalista das autoridades, é o pano de fundo deste percurso fantástico pela distopia inventada por uma caricata dinastia de tiranos.

Eu entendia o ódio com que o guarda da alfândega me olhava. Era um oficial de farda nova e completa, botas engraxadas, patentes brilhantes, talvez sessenta anos, talvez pai de alguém da minha idade. O compartimento tinha quatro lugares. A minha mala estava sobre a cama de cima, à esquerda. Eu estava à espera no corredor do comboio, entre toda a gente que também esperava. Quando chegou a minha vez, entrei. Ele estava de pé, a segurar o meu passaporte aberto à sua frente, como se me comparasse com a fotografia mas sem olhar para ela, apenas a fixar-me, severo, de ferro.
O seu olhar punha o meu corpo inteiro em tensão. Eu entendia essa tensão. Ali, significava ordem. Esse era também o motivo para o aparente ódio, ou desprezo, com que me olhava. Afinal, não era ódio, era disciplina.
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