A Arte Da Brevidade: Contos

Virginia Woolf escreveu poucos contos, muitos deles meros esboços, exercícios, ensaios de escrita. Mas em alguns estão concentradas características de seus romances mais experimentais: a rejeição do realismo literário, o uso de técnicas narrativas pouco ortodoxas, a experimentação com a estrutura e a sintaxe.


Em A Arte da Brevidade, o leitor encontrará uma seleção concisa de contos importantes da escritora.
A tradução dos cinco contos dessa antologia vem acompanhada do texto original, um diferencial importante.
A seleção se concentra em seus contos mais experimentais e nos que têm recebido maior atenção da crítica (Woolf escreveu ao todo 46 contos). Há entre eles, contudo, um conto considerado mais palatável, O Legado, que sustenta, apesar dessa característica, sua qualidade literária e assemelha-se muito ao conto Os Mortos, de James Joyce.
Muitas vezes, na prosa de Virginia Woolf, um detalhe ou um objeto cotidiano e trivial ganha destaque em sua narrativa. Em Objetos Sólidos, por exemplo, a loucura da personagem tem início quando encontra na praia um pequeno caco de vidro sem valor, mas que, na sua imaginação, “talvez realmente fosse, afinal, uma pedra preciosa; algo exibido por uma princesa negra, sentada na popa do barco”.

Foi talvez em meados de janeiro do corrente ano que pela primeira vez olhei para cima e vi a marca na parede. Para fixar uma data é preciso lembrar o que se via. Assim, penso agora no fogo; na firme película de luz amarela sobre a página de meu livro; nos três crisântemos do jarro redondo de vidro em cima do console da lareira. Sim, devia ser inverno, e tínhamos acabado de tomar nosso chá, pois lembro que estava fumando um cigarro quando olhei para cima e vi a marca na parede pela primeira vez. Olhei para cima através da fumaça do cigarro e meu olhar se fixou por um instante nos carvões em brasa, e aquela antiga fantasia da flâmula carmesim flutuando do alto da torre do castelo me veio à mente, e pensei na cavalgada de cavaleiros rubros subindo pela escarpa do penhasco negro. Para meu grande alívio, a visão da marca interrompeu a fantasia, pois é uma fantasia antiga, uma imagem automática, arquitetada quando criança talvez. A marca era uma pequena marca redonda, negra contra a parede branca, dois palmos acima do console da lareira.

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Virginia Woolf escreveu poucos contos, muitos deles meros esboços, exercícios, ensaios de escrita. Mas em alguns estão concentradas características de seus romances mais experimentais: a rejeição do realismo literário, o uso de técnicas narrativas pouco ortodoxas, a experimentação com a estrutura e a sintaxe.
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Muitas vezes, na prosa de Virginia Woolf, um detalhe ou um objeto cotidiano e trivial ganha destaque em sua narrativa. Em Objetos Sólidos, por exemplo, a loucura da personagem tem início quando encontra na praia um pequeno caco de vidro sem valor, mas que, na sua imaginação, “talvez realmente fosse, afinal, uma pedra preciosa; algo exibido por uma princesa negra, sentada na popa do barco”.

Foi talvez em meados de janeiro do corrente ano que pela primeira vez olhei para cima e vi a marca na parede. Para fixar uma data é preciso lembrar o que se via. Assim, penso agora no fogo; na firme película de luz amarela sobre a página de meu livro; nos três crisântemos do jarro redondo de vidro em cima do console da lareira. Sim, devia ser inverno, e tínhamos acabado de tomar nosso chá, pois lembro que estava fumando um cigarro quando olhei para cima e vi a marca na parede pela primeira vez. Olhei para cima através da fumaça do cigarro e meu olhar se fixou por um instante nos carvões em brasa, e aquela antiga fantasia da flâmula carmesim flutuando do alto da torre do castelo me veio à mente, e pensei na cavalgada de cavaleiros rubros subindo pela escarpa do penhasco negro. Para meu grande alívio, a visão da marca interrompeu a fantasia, pois é uma fantasia antiga, uma imagem automática, arquitetada quando criança talvez. A marca era uma pequena marca redonda, negra contra a parede branca, dois palmos acima do console da lareira.

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