Da Lavoura Às Biotecnologias

Este livro cresceu da convicção de que as análises contemporâneas da agricultura e da mudança social rural alcançaram um impasse. Dentro da tradição marxista, o significado do desenvolvimento tecnológico foi continuamente distorcido

na medida em que as categorias teóricas e ideológicas do marxismo clássico foram alargadas para incorporar as estruturas sociais rurais modernas. Por sua vez, as contribuições neoclássicas, embora levando em conta a questão crucial da inovação, reduziram-na ao problema genérico da substituição de fatores. As duas abordagens, seja na linguagem da “penetração” ou da “modernização” capitalista, trataram do problema da agricultura, tal como ele é condicionado pela peculiaridade das relações sociais, por um lado, e pelas proporções entre os fatores, por outro.
A chave para compreender o caráter único da agricultura, argumentamos, não está nem em sua estrutura social nem na dotação dos fatores. Ao contrário, a agricultura confronta o capitalismo com um processo de produção natural. Diferentemente dos setores da atividade artesanal, a agricultura não poderia ser diretamente transformada num ramo da produção industrial. Não havia alternativa industrial à transformação biológica da energia solar em alimento. A industrialização da agricultura, portanto, tomou um caminho decididamente diferente.
Este caminho foi determinado pelas limitações estruturais do processo de produção agrícola, representadas pela natureza enquanto conversão biológica de energia, enquanto tempo biológico no crescimento das plantas e na gestação animal, e enquanto espaço nas atividades rurais baseadas na terra. Incapazes de remover estas limitações diretamente através da criação de um processo de produção unificado, os capitais industriais reagiram adaptando-se às especificidades da natureza na produção agrícola. Dentro dos limites mutáveis definidos pelo progresso técnico, elementos discretos do processo de produção têm sido conquistados pela indústria -a semeadura à mão pela máquina de semear, o cavalo pelo trator, o esterco por produtos químicos sintéticos. Assim, diferentes aspectos da produção agrícola foram transformados em setores específicos da atividade industrial. Este processo descontínuo porém persistente de eliminação de elementos discretos da produção agrícola, sua transformação em atividades industriais e sua reincorporação na agricultura sob a forma de insumos designamos apropriacionismo.

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Este livro cresceu da convicção de que as análises contemporâneas da agricultura e da mudança social rural alcançaram um impasse. Dentro da tradição marxista, o significado do desenvolvimento tecnológico foi continuamente distorcido na medida em que as categorias teóricas e ideológicas do marxismo clássico foram alargadas para incorporar as estruturas sociais rurais modernas. Por sua vez, as contribuições neoclássicas, embora levando em conta a questão crucial da inovação, reduziram-na ao problema genérico da substituição de fatores. As duas abordagens, seja na linguagem da “penetração” ou da “modernização” capitalista, trataram do problema da agricultura, tal como ele é condicionado pela peculiaridade das relações sociais, por um lado, e pelas proporções entre os fatores, por outro.
A chave para compreender o caráter único da agricultura, argumentamos, não está nem em sua estrutura social nem na dotação dos fatores. Ao contrário, a agricultura confronta o capitalismo com um processo de produção natural. Diferentemente dos setores da atividade artesanal, a agricultura não poderia ser diretamente transformada num ramo da produção industrial. Não havia alternativa industrial à transformação biológica da energia solar em alimento. A industrialização da agricultura, portanto, tomou um caminho decididamente diferente.
Este caminho foi determinado pelas limitações estruturais do processo de produção agrícola, representadas pela natureza enquanto conversão biológica de energia, enquanto tempo biológico no crescimento das plantas e na gestação animal, e enquanto espaço nas atividades rurais baseadas na terra. Incapazes de remover estas limitações diretamente através da criação de um processo de produção unificado, os capitais industriais reagiram adaptando-se às especificidades da natureza na produção agrícola. Dentro dos limites mutáveis definidos pelo progresso técnico, elementos discretos do processo de produção têm sido conquistados pela indústria -a semeadura à mão pela máquina de semear, o cavalo pelo trator, o esterco por produtos químicos sintéticos. Assim, diferentes aspectos da produção agrícola foram transformados em setores específicos da atividade industrial. Este processo descontínuo porém persistente de eliminação de elementos discretos da produção agrícola, sua transformação em atividades industriais e sua reincorporação na agricultura sob a forma de insumos designamos apropriacionismo.

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