A Psicologia Social E A Questão Do Hífen

A psicologia social nasceu com o reconhecimento de que certos processos psicológicos do indivíduo só ocorrem quando este se encontra em situação grupal ou de massa.

Analogamente às propriedades oriundas das associações entre diferentes elementos químicos, as pessoas reagiam de forma frequentemente inusitada quando estavam em situação grupal. Rapidamente, outros modelos pareceram explicar melhor esse tipo de fenômeno, aquele da primazia da forma total sobre os elementos que a compunham, como, por exemplo, o da Gestalt. Outros movimentos teóricos reforçaram a pertinência de uma forte dependência da área da psicologia social na sociologia, a saber, por um lado, a progressiva preocupação com os processos de socialização na constituição do indivíduo, e, por outro, a teoria crítica da Escola de Frankfurt. Este múltiplo reconhecimento da anterioridade do social sobre o individual, contudo, deixa em aberto não apenas os loci de gênese destes processos, como também não responde à difícil questão de saber se e como o indivíduo pode influir nos processos sociais.
Os textos aqui organizados se propõem a abordar esse quiasma entre o social e o individual a partir de um elemento gráfico: o hífen. À primeira vista, pode parecer imprópria a proposta de uma discussão a respeito de um grafismo inexistente em nossa língua para o termo “psicossocial”. O dicionário Houaiss não previa um hífen para a palavra em questão, mesmo antes da reforma ortográfica que o baniu definitivamente de muitos vocábulos da língua. Nossa insistência em tal impropriedade deve ser justificada: ela vai além de uma nostalgia linguística pelo que nunca existiu e se refere, sobretudo, à tensão conceitual entre o hiato de dois aspectos da psicologia social, o social e o psíquico, e o reconhecimento de sua necessária implicação mútua.
De fato, subjacente a este difícil, mas incontornável pareamento entre o social e o psíquico, uma questão epistemológica subjaz à natureza mesma da psicologia social como forma autônoma de conhecimento. Seria a autonomia disciplinar da psicologia social garantida por uma intersecção objetivamente presente na realidade ou seria ela um território administrativamente construído a partir dos dois domínios heterogêneos, aqueles da psicologia e da sociologia? Também não é raro que uma dessas disciplinas se apresente como podendo “absorver” a outra, do mesmo modo que é possível pensar que a química é “apenas” um subconjunto da física. Nesse caso, não seria o nome “psicologia social” uma simples reunião artificial de uma oposição artificial e equivocada entre a psicologia do indivíduo e os processos sociais?

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A psicologia social nasceu com o reconhecimento de que certos processos psicológicos do indivíduo só ocorrem quando este se encontra em situação grupal ou de massa. Analogamente às propriedades oriundas das associações entre diferentes elementos químicos, as pessoas reagiam de forma frequentemente inusitada quando estavam em situação grupal. Rapidamente, outros modelos pareceram explicar melhor esse tipo de fenômeno, aquele da primazia da forma total sobre os elementos que a compunham, como, por exemplo, o da Gestalt. Outros movimentos teóricos reforçaram a pertinência de uma forte dependência da área da psicologia social na sociologia, a saber, por um lado, a progressiva preocupação com os processos de socialização na constituição do indivíduo, e, por outro, a teoria crítica da Escola de Frankfurt. Este múltiplo reconhecimento da anterioridade do social sobre o individual, contudo, deixa em aberto não apenas os loci de gênese destes processos, como também não responde à difícil questão de saber se e como o indivíduo pode influir nos processos sociais.
Os textos aqui organizados se propõem a abordar esse quiasma entre o social e o individual a partir de um elemento gráfico: o hífen. À primeira vista, pode parecer imprópria a proposta de uma discussão a respeito de um grafismo inexistente em nossa língua para o termo “psicossocial”. O dicionário Houaiss não previa um hífen para a palavra em questão, mesmo antes da reforma ortográfica que o baniu definitivamente de muitos vocábulos da língua. Nossa insistência em tal impropriedade deve ser justificada: ela vai além de uma nostalgia linguística pelo que nunca existiu e se refere, sobretudo, à tensão conceitual entre o hiato de dois aspectos da psicologia social, o social e o psíquico, e o reconhecimento de sua necessária implicação mútua.
De fato, subjacente a este difícil, mas incontornável pareamento entre o social e o psíquico, uma questão epistemológica subjaz à natureza mesma da psicologia social como forma autônoma de conhecimento. Seria a autonomia disciplinar da psicologia social garantida por uma intersecção objetivamente presente na realidade ou seria ela um território administrativamente construído a partir dos dois domínios heterogêneos, aqueles da psicologia e da sociologia? Também não é raro que uma dessas disciplinas se apresente como podendo “absorver” a outra, do mesmo modo que é possível pensar que a química é “apenas” um subconjunto da física. Nesse caso, não seria o nome “psicologia social” uma simples reunião artificial de uma oposição artificial e equivocada entre a psicologia do indivíduo e os processos sociais?

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