Interfaces Comunicacionais

Há toda uma tradição do pensamento sobre a comunicação e sua efetividade que se baseia na dialética argumentativa e reflexiva, que nos afasta, certamente, de tudo que, na esfera do afeto, não é conceitual e contratual.

A hipostasia que aparece em Habermas da argumentação transparente em função de um consenso negligencia uma instância fundamental de toda discursividade a qual os filósofos de Frankfurt (com algumas exceções) raramente se reportam: a corporeidade da linguagem, ou seja, o fato de que todo ato discursivo se efetiva num corpo, numa presença. A acentuação do valor comunicacional dos enunciados nos faz esquecer que a enunciação está ancorada numa presença espaço-temporal, que, de algum modo, serve de obstáculo à reflexividade transparente e a racionalidade argumentativa.
De certa maneira, podemos dizer que autores como McLuhan, Benjamin, entre outros foram sensíveis a este aspecto da sensibilidade humana nos processos comunicacionais. Ao enunciar que “o meio é a mensagem”, McLuhan deslocou a atenção dos enunciados, daquilo que se diz, e procurou enfatizar o efeito do ato comunicacional em função dos seus suportes midiáticos, revelando a força de cada mídia na modelagem das estruturas sensório-motoras do homem, agindo sobre suas práticas comportamentais e, portanto, sobre seus gostos, condutas e valores. A ideia seria pensar os meios a partir do tipo de envolvimento que eles suscitam, provocando diferentes modos de atribuição de sentido as coisas e dinâmicas da vida simbólica.
Benjamin, por sua vez, ao refletir sobre as técnicas de reprodução vai nos fazer perceber que, de certa forma, as mídias reestruturam nossas formas de ver e agir, alterando, inclusive, o ambiente no qual estamos imersos. Destaca o aspecto cultural envolvido nessas mudanças, sobretudo quando considera que “no interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma
ao mesmo tempo que seu modo de existência”.
Mas a dimensão pragmática da comunicação que conjuga de modo fecundo o enunciado e a enunciação certamente tiveram na chamada Escola de Palo Alto a sua mais forte contribuição. Ao afirmar que “é impossível não comunicar”, um autor como Watzlawick dilui a hegemonia dos enunciados e mostra que as condições práticas da enunciação são fundamentais para a configuração dos sentidos, introduzindo a importância do contexto nas dinâmicas comunicacionais, bem como a presença corporal.

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De certa maneira, podemos dizer que autores como McLuhan, Benjamin, entre outros foram sensíveis a este aspecto da sensibilidade humana nos processos comunicacionais. Ao enunciar que “o meio é a mensagem”, McLuhan deslocou a atenção dos enunciados, daquilo que se diz, e procurou enfatizar o efeito do ato comunicacional em função dos seus suportes midiáticos, revelando a força de cada mídia na modelagem das estruturas sensório-motoras do homem, agindo sobre suas práticas comportamentais e, portanto, sobre seus gostos, condutas e valores. A ideia seria pensar os meios a partir do tipo de envolvimento que eles suscitam, provocando diferentes modos de atribuição de sentido as coisas e dinâmicas da vida simbólica.
Benjamin, por sua vez, ao refletir sobre as técnicas de reprodução vai nos fazer perceber que, de certa forma, as mídias reestruturam nossas formas de ver e agir, alterando, inclusive, o ambiente no qual estamos imersos. Destaca o aspecto cultural envolvido nessas mudanças, sobretudo quando considera que “no interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transforma
ao mesmo tempo que seu modo de existência”.
Mas a dimensão pragmática da comunicação que conjuga de modo fecundo o enunciado e a enunciação certamente tiveram na chamada Escola de Palo Alto a sua mais forte contribuição. Ao afirmar que “é impossível não comunicar”, um autor como Watzlawick dilui a hegemonia dos enunciados e mostra que as condições práticas da enunciação são fundamentais para a configuração dos sentidos, introduzindo a importância do contexto nas dinâmicas comunicacionais, bem como a presença corporal.

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