Tempos Instáveis

A Piauí surgiu em outubro de 2006 como uma planta improvável, ou algo exótica, na paisagem das publicações brasileiras. Já existia o consenso de que o jornalismo impresso era uma atividade condenada — se não à morte imediata, a um estrangulamento progressivo que o levaria a um triste fim.

Os veículos de comunicação se viam diante do dilema de adiar o inevitável, mantendo vivo, em condições cada vez mais custosas, o doente de papel, ou voltar seus recursos e atenções para a fronteira digital, apressando o declínio da versão física para que jornais e revistas pudessem conhecer uma nova encarnação na esfera virtual.
A expressão “jornalismo diário” se tornou obsoleta. Sob a tirania do on-line e das redes sociais, o tempo da notícia passou a ser medido em minutos, segundos, caracteres. Bombardeado por todos os lados, ininterruptamente, o leitor, por sua vez, deixou de ser mero receptor passivo das informações. Aquela pessoa que abre o jornal em cima da mesa no café da manhã e resmunga diante da folha de papel é uma figura em extinção. O consumidor de informações agora acorda — ou, antes, mantêm-se acordado — conversando com o mundo. Contesta, repercute, interfere na difusão de notícias em tempo real. Se há um efeito democratizante nessa nova ordem, também é fato que ela produz uma algaravia selvagem. Na dinâmica entrópica da nuvem digital, elementos que devem nortear o exercício do jornalismo profissional, como o rigor da apuração, a hierarquia entre as notícias, o respeito às nuances e à complexidade dos fatos, para não falar do compromisso com a busca da verdade, parecem estar sob ameaça permanente, ou, pior, não ter mais importância.
Foi no ambiente de adensamento dessa nuvem que a Piauí veio à luz. Seria difícil imaginar outra publicação tão na contramão do espírito dos tempos. A começar pela aposta no papel. Mal comparando, era como ingressar no ramo do aluguel de charretes no momento em que Henry Ford inventava a linha de montagem de carros.

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A Piauí surgiu em outubro de 2006 como uma planta improvável, ou algo exótica, na paisagem das publicações brasileiras. Já existia o consenso de que o jornalismo impresso era uma atividade condenada — se não à morte imediata, a um estrangulamento progressivo que o levaria a um triste fim. Os veículos de comunicação se viam diante do dilema de adiar o inevitável, mantendo vivo, em condições cada vez mais custosas, o doente de papel, ou voltar seus recursos e atenções para a fronteira digital, apressando o declínio da versão física para que jornais e revistas pudessem conhecer uma nova encarnação na esfera virtual.
A expressão “jornalismo diário” se tornou obsoleta. Sob a tirania do on-line e das redes sociais, o tempo da notícia passou a ser medido em minutos, segundos, caracteres. Bombardeado por todos os lados, ininterruptamente, o leitor, por sua vez, deixou de ser mero receptor passivo das informações. Aquela pessoa que abre o jornal em cima da mesa no café da manhã e resmunga diante da folha de papel é uma figura em extinção. O consumidor de informações agora acorda — ou, antes, mantêm-se acordado — conversando com o mundo. Contesta, repercute, interfere na difusão de notícias em tempo real. Se há um efeito democratizante nessa nova ordem, também é fato que ela produz uma algaravia selvagem. Na dinâmica entrópica da nuvem digital, elementos que devem nortear o exercício do jornalismo profissional, como o rigor da apuração, a hierarquia entre as notícias, o respeito às nuances e à complexidade dos fatos, para não falar do compromisso com a busca da verdade, parecem estar sob ameaça permanente, ou, pior, não ter mais importância.
Foi no ambiente de adensamento dessa nuvem que a Piauí veio à luz. Seria difícil imaginar outra publicação tão na contramão do espírito dos tempos. A começar pela aposta no papel. Mal comparando, era como ingressar no ramo do aluguel de charretes no momento em que Henry Ford inventava a linha de montagem de carros.

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