Apologia Da História Ou O Ofício De Historiador

Segundo um velho provérbio árabe, “os homens se parecem mais com sua época do que com seus pais”. Ditos, pretensamente ingênuos, fazem mais do que simplesmente dispor sobre o óbvio; muitas vezes anunciam tendências ou expõem, de forma sintética, sentimentos e expectativas.


Na verdade, foi essa fórmula que Marc Bloch, o grande historiador medievalista francês, sempre buscou. Contra uma historiografia positiva e événementielle — conforme designaram F. Simiand e P. Lacombe —, que se apoiava em fatos, grandes nomes e heróis e assim constituía pautas e agendas históricas naturalizadas, Bloch inaugurou a noção de “história como problema”.
Em primeiro lugar, a história não seria mais entendida como uma “ciência do passado”, uma vez que, segundo Bloch, “passado não é objeto de ciência”. Ao contrário, era no jogo entre a importância do presente para a compreensão do passado e vice-versa que a partida era, de fato, jogada. Nessa formulação pretensamente simples estava exposto o “método regressivo”: temas do presente condicionam e delimitam o retorno, possível, ao passado. Tal qual um “dom das fadas”, a história faria com que o passado retornasse, porém não de maneira intocada e “pura”. Por isso mesmo, Bloch preferia trocar os termos da equação e provocar dizendo que, assim como a história não era a ciência do passado, também não poderia ser definida como uma “ciência do homem”.
Entre tantos “nãos” sobrava, porém, espaço para a conclusão: a história seria talvez a “ciência dos homens, ou melhor, dos homens no tempo”. Não estamos longe da definição de Lucien Febvre, um especialista no século XVI, o qual, junto com Marc Bloch, fundou nos idos de 1929 a prestigiosa escola dos Annales, que teria papel fundamental na constituição de um novo modelo de historiografia. Segundo Febvre, a “história era filha de seu tempo”, o que já demonstrava a intenção do grupo de problematizar o próprio “fazer histórico” e sua capacidade de observar. Cada época elenca novos temas que, no fundo, falam mais de suas próprias inquietações e convicções do que de tempos memoráveis, cuja lógica pode ser descoberta de uma vez só.

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Segundo um velho provérbio árabe, “os homens se parecem mais com sua época do que com seus pais”. Ditos, pretensamente ingênuos, fazem mais do que simplesmente dispor sobre o óbvio; muitas vezes anunciam tendências ou expõem, de forma sintética, sentimentos e expectativas.
Na verdade, foi essa fórmula que Marc Bloch, o grande historiador medievalista francês, sempre buscou. Contra uma historiografia positiva e événementielle — conforme designaram F. Simiand e P. Lacombe —, que se apoiava em fatos, grandes nomes e heróis e assim constituía pautas e agendas históricas naturalizadas, Bloch inaugurou a noção de “história como problema”.
Em primeiro lugar, a história não seria mais entendida como uma “ciência do passado”, uma vez que, segundo Bloch, “passado não é objeto de ciência”. Ao contrário, era no jogo entre a importância do presente para a compreensão do passado e vice-versa que a partida era, de fato, jogada. Nessa formulação pretensamente simples estava exposto o “método regressivo”: temas do presente condicionam e delimitam o retorno, possível, ao passado. Tal qual um “dom das fadas”, a história faria com que o passado retornasse, porém não de maneira intocada e “pura”. Por isso mesmo, Bloch preferia trocar os termos da equação e provocar dizendo que, assim como a história não era a ciência do passado, também não poderia ser definida como uma “ciência do homem”.
Entre tantos “nãos” sobrava, porém, espaço para a conclusão: a história seria talvez a “ciência dos homens, ou melhor, dos homens no tempo”. Não estamos longe da definição de Lucien Febvre, um especialista no século XVI, o qual, junto com Marc Bloch, fundou nos idos de 1929 a prestigiosa escola dos Annales, que teria papel fundamental na constituição de um novo modelo de historiografia. Segundo Febvre, a “história era filha de seu tempo”, o que já demonstrava a intenção do grupo de problematizar o próprio “fazer histórico” e sua capacidade de observar. Cada época elenca novos temas que, no fundo, falam mais de suas próprias inquietações e convicções do que de tempos memoráveis, cuja lógica pode ser descoberta de uma vez só.

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