Agricultura, Cooperativas E Multinacionais

Até fins da década de 1960, os estudos rurais no Brasil eram orientados pelas teorias que localizavam no latifúndio o entrave central ao desenvolvimento capitalista no campo, ou, inversamente, que consideravam o modo de produção capitalista dominando as relações sociais na agricultura.

Em época recente, esses paradigmas foram geralmente postos de lado para enfatizar a problemática da penetração do capitalismo na agricultura e, em particular, as formas através das quais a agricultura tradicional favorece a acumulação de capital.
Em torno desses problemas, foram produzidos sem dúvida estudos importantes para a compreensão da formação e dinâmica do capitalismo brasileiro, porém os termos desse debate mostram insuficiências cada vez mais aparentes no que se refere à capacidade de explicar a dinâmica social e a configuração da estrutura de classes da agricultura brasileira. Para avançar nessa caracterização, devem-se explicitar e determinar tanto os mecanismos e formas concretas através dos quais os diversos tipos de capitais “penetram” na agricultura quanto à especificidade das relações sociais existentes no campo e seu papel como agente ativo nesse processo.
É preciso deixar de lado, portanto, discussões semânticas sobre a “natureza” da subordinação do produtor familiar ao capital para desenvolver estudos concretos que permitam determinar as características do processo de formação de classes na agricultura. Nesse contexto as atuais teorizações deverão reconhecer sua precariedade, de forma que, servindo para orientar novas pesquisas, possam ser reformuladas à luz dos resultados destas.
O trabalho de Luiz Coradini é um esforço de compreensão do papel das cooperativas no processo de expansão da produção do trigo e soja no Sul do país e o desenvolvimento da estrutura social sob o impacto de uma capitalização e tecnificação aceleradas da produção. É particularmente interessante o seu argumento em torno da inexistência de um processo de proletarização que acompanharia o processo de modernização agrícola, assim como a análise das grandes cooperativas como espaço contraditório de reprodução do capital agroindustrial.
Diferentemente do estudo de Coradini, a análise do processo de produção, comercialização e transformação do leite, realizada por Antoinette Fredericq, centra-se particularmente no desvendamento das formas de atuação e expansão de uma empresa agroindustrial, no caso, a Nestlé. O trabalho privilegia particularmente o que pode ser denominado a “ideologia agroindustrial”, que procura substituir produtos tradicionais de consumo por outros manufaturados, geralmente de preços mais altos e menor valor nutritivo.

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Até fins da década de 1960, os estudos rurais no Brasil eram orientados pelas teorias que localizavam no latifúndio o entrave central ao desenvolvimento capitalista no campo, ou, inversamente, que consideravam o modo de produção capitalista dominando as relações sociais na agricultura. Em época recente, esses paradigmas foram geralmente postos de lado para enfatizar a problemática da penetração do capitalismo na agricultura e, em particular, as formas através das quais a agricultura tradicional favorece a acumulação de capital.
Em torno desses problemas, foram produzidos sem dúvida estudos importantes para a compreensão da formação e dinâmica do capitalismo brasileiro, porém os termos desse debate mostram insuficiências cada vez mais aparentes no que se refere à capacidade de explicar a dinâmica social e a configuração da estrutura de classes da agricultura brasileira. Para avançar nessa caracterização, devem-se explicitar e determinar tanto os mecanismos e formas concretas através dos quais os diversos tipos de capitais “penetram” na agricultura quanto à especificidade das relações sociais existentes no campo e seu papel como agente ativo nesse processo.
É preciso deixar de lado, portanto, discussões semânticas sobre a “natureza” da subordinação do produtor familiar ao capital para desenvolver estudos concretos que permitam determinar as características do processo de formação de classes na agricultura. Nesse contexto as atuais teorizações deverão reconhecer sua precariedade, de forma que, servindo para orientar novas pesquisas, possam ser reformuladas à luz dos resultados destas.
O trabalho de Luiz Coradini é um esforço de compreensão do papel das cooperativas no processo de expansão da produção do trigo e soja no Sul do país e o desenvolvimento da estrutura social sob o impacto de uma capitalização e tecnificação aceleradas da produção. É particularmente interessante o seu argumento em torno da inexistência de um processo de proletarização que acompanharia o processo de modernização agrícola, assim como a análise das grandes cooperativas como espaço contraditório de reprodução do capital agroindustrial.
Diferentemente do estudo de Coradini, a análise do processo de produção, comercialização e transformação do leite, realizada por Antoinette Fredericq, centra-se particularmente no desvendamento das formas de atuação e expansão de uma empresa agroindustrial, no caso, a Nestlé. O trabalho privilegia particularmente o que pode ser denominado a “ideologia agroindustrial”, que procura substituir produtos tradicionais de consumo por outros manufaturados, geralmente de preços mais altos e menor valor nutritivo.

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