Às Armas, Cidadãos!: Panfletos Manuscritos Da Independência Do Brasil (1820-1823)

‘Às armas, cidadãos! É tempo. Às armas...’
Assim começava um dos muitos panfletos manuscritos colados nas paredes e nos postes de várias cidades brasileiras nos anos de 1820 a 1823, quando as ruas se agitavam na luta pela constitucionalização do reino e pela independência do Brasil.

Tratava-se dos papelinhos, à época muito falados, mas até hoje pouco conhecidos.
Produzidos, geralmente, em momentos de turbulência política, os papelinhos, ou panfletos, manuscritos ou impressos, não foram exclusividade do Brasil e de Portugal. Armas típicas da vida política do mundo moderno e início do contemporâneo, os panfletos se fizeram presentes em diversos acontecimentos marcantes da história ocidental. É o caso, por exemplo, das 5 mil diatribes levantadas contra o cardeal Mazarino em meados do século XVII, na época das Frondas; dos inumeráveis panfletos das revoluções inglesas do século XVII; daqueles relativos à Guerra de Independência norte-americana, publicados ao longo de 1776; dos que vieram à luz entre 1789 e 1799 no calor da Revolução Francesa; dos que foram produzidos no período napoleônico e no processo de independência das ex-colônias espanholas.
Entre o final do século XVIII e o início do XIX, o escrito passou a ter importância fundamental nas sociedades ocidentais. As discussões políticas começaram a ultrapassar o âmbito restrito das cortes e dos palácios para invadir os novos espaços públicos de sociabilidade surgidos paralelamente à difusão das Luzes — os cafés, os salões, as academias, as livrarias e até mesmo as sociedades secretas, que, sob a proteção do segredo, converteram a palavra em coisa pública, como salientou François-Xavier Guerra. Sob a forma manuscrita ou impressa, os panfletos transformaram-se em instrumentos eficazes de promoção do debate e, mais ainda, da ampliação de seu alcance, graças à prática da leitura coletiva em voz alta. Surgia a possibilidade de intervenção do indivíduo comum na condução dos destinos coletivos.
A América portuguesa caminhou mais lentamente. Até o início do século XIX, ela permaneceu profundamente marcada pela cultura oral e outras características do Antigo Regime, às quais se somava a peculiaridade da escravidão. Na cultura oral, predominava a voz geral, que reproduzia a tradição e o bom senso da comunidade, tanto uma como o outro atualizados de acordo com as circunstâncias, sem que os envolvidos se dessem conta da mudança. A essa tradição opunha-se o conhecimento letrado, basea­do em evidências e motivos racionais, situado em determinado tempo e lugar, no sentido mais propriamente histórico do termo situação.

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Às Armas, Cidadãos!: Panfletos Manuscritos Da Independência Do Brasil (1820-1823)

‘Às armas, cidadãos! É tempo. Às armas…’
Assim começava um dos muitos panfletos manuscritos colados nas paredes e nos postes de várias cidades brasileiras nos anos de 1820 a 1823, quando as ruas se agitavam na luta pela constitucionalização do reino e pela independência do Brasil. Tratava-se dos papelinhos, à época muito falados, mas até hoje pouco conhecidos.
Produzidos, geralmente, em momentos de turbulência política, os papelinhos, ou panfletos, manuscritos ou impressos, não foram exclusividade do Brasil e de Portugal. Armas típicas da vida política do mundo moderno e início do contemporâneo, os panfletos se fizeram presentes em diversos acontecimentos marcantes da história ocidental. É o caso, por exemplo, das 5 mil diatribes levantadas contra o cardeal Mazarino em meados do século XVII, na época das Frondas; dos inumeráveis panfletos das revoluções inglesas do século XVII; daqueles relativos à Guerra de Independência norte-americana, publicados ao longo de 1776; dos que vieram à luz entre 1789 e 1799 no calor da Revolução Francesa; dos que foram produzidos no período napoleônico e no processo de independência das ex-colônias espanholas.
Entre o final do século XVIII e o início do XIX, o escrito passou a ter importância fundamental nas sociedades ocidentais. As discussões políticas começaram a ultrapassar o âmbito restrito das cortes e dos palácios para invadir os novos espaços públicos de sociabilidade surgidos paralelamente à difusão das Luzes — os cafés, os salões, as academias, as livrarias e até mesmo as sociedades secretas, que, sob a proteção do segredo, converteram a palavra em coisa pública, como salientou François-Xavier Guerra. Sob a forma manuscrita ou impressa, os panfletos transformaram-se em instrumentos eficazes de promoção do debate e, mais ainda, da ampliação de seu alcance, graças à prática da leitura coletiva em voz alta. Surgia a possibilidade de intervenção do indivíduo comum na condução dos destinos coletivos.
A América portuguesa caminhou mais lentamente. Até o início do século XIX, ela permaneceu profundamente marcada pela cultura oral e outras características do Antigo Regime, às quais se somava a peculiaridade da escravidão. Na cultura oral, predominava a voz geral, que reproduzia a tradição e o bom senso da comunidade, tanto uma como o outro atualizados de acordo com as circunstâncias, sem que os envolvidos se dessem conta da mudança. A essa tradição opunha-se o conhecimento letrado, basea­do em evidências e motivos racionais, situado em determinado tempo e lugar, no sentido mais propriamente histórico do termo situação.

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