Histórias Da AIDS

Neste livro estão narradas histórias de indivíduos que vivem com o vírus da AIDS hoje, numa realidade “pós-coquetel”. São relatos que vêm entrelaçados com a história de evolução da própria doença, em suas nuances médicas, científicas, comportamentais e sociais.

Como a maioria dos médicos da minha área, comecei a ouvir falar da AIDS em 1981. Soube dos primeiros casos através de uma revista publicada semanalmente pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). A nova e misteriosa moléstia espalhava-se rapidamente em diversas cidades norte-americanas, e logo vimos que, o que quer que fosse aquilo, poderia chegar até nós. O primeiro caso brasileiro foi noticiado no ano seguinte.
A sensação que eu e os demais profissionais da saúde experimentamos diante dos primeiros pacientes foi de absoluta paúra, porque não se sabia exatamente como a doença era adquirida. É verdade que, quando a AIDS chegou ao Brasil, já se conheciam as prováveis formas de transmissão – contato com sangue e fluidos sexuais –, mas, ainda assim, não nos sentíamos seguros para descartar outras formas de contágio, até que houvesse provas irrefutáveis a esse respeito.
Os médicos lidavam com os doentes paramentados como astronautas – usavam dois aventais, luvas, máscara, óculos e gorro. Faziam procedimentos invasivos um tanto amedrontados. Havia receio de, ao entubar um paciente, por exemplo, entrar em contato com a saliva ou o vômito da pessoa, como ocorria, às vezes. Algumas enfermeiras se recusavam a entrar no quarto dos indivíduos que padeciam da nova doença. Outras apenas levavam as refeições e saíam o mais rápido que podiam, sem tocar em nada.
Nós, médicos, não sabíamos nem mesmo se era seguro liberar as visitas dos familiares. Orientávamos as pessoas a se “empacotarem” o máximo possível antes de entrar no quarto do doente. É claro que ponderávamos: “Bom, o paciente estava em casa até ontem, e a família está saudável, então essa doença não deve mesmo ser transmitida através do contato com a pele ou a saliva nem pelo compartilhamento de objetos”. Mas o medo era tanto que preferíamos pecar pelo excesso. Dá para imaginar o constrangimento emocional dos pacientes diante de tudo isso.

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Como a maioria dos médicos da minha área, comecei a ouvir falar da AIDS em 1981. Soube dos primeiros casos através de uma revista publicada semanalmente pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). A nova e misteriosa moléstia espalhava-se rapidamente em diversas cidades norte-americanas, e logo vimos que, o que quer que fosse aquilo, poderia chegar até nós. O primeiro caso brasileiro foi noticiado no ano seguinte.
A sensação que eu e os demais profissionais da saúde experimentamos diante dos primeiros pacientes foi de absoluta paúra, porque não se sabia exatamente como a doença era adquirida. É verdade que, quando a AIDS chegou ao Brasil, já se conheciam as prováveis formas de transmissão – contato com sangue e fluidos sexuais –, mas, ainda assim, não nos sentíamos seguros para descartar outras formas de contágio, até que houvesse provas irrefutáveis a esse respeito.
Os médicos lidavam com os doentes paramentados como astronautas – usavam dois aventais, luvas, máscara, óculos e gorro. Faziam procedimentos invasivos um tanto amedrontados. Havia receio de, ao entubar um paciente, por exemplo, entrar em contato com a saliva ou o vômito da pessoa, como ocorria, às vezes. Algumas enfermeiras se recusavam a entrar no quarto dos indivíduos que padeciam da nova doença. Outras apenas levavam as refeições e saíam o mais rápido que podiam, sem tocar em nada.
Nós, médicos, não sabíamos nem mesmo se era seguro liberar as visitas dos familiares. Orientávamos as pessoas a se “empacotarem” o máximo possível antes de entrar no quarto do doente. É claro que ponderávamos: “Bom, o paciente estava em casa até ontem, e a família está saudável, então essa doença não deve mesmo ser transmitida através do contato com a pele ou a saliva nem pelo compartilhamento de objetos”. Mas o medo era tanto que preferíamos pecar pelo excesso. Dá para imaginar o constrangimento emocional dos pacientes diante de tudo isso.

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