Os Farsantes

Os farsantes insere o conhecimento histórico e as análises profundas de Greene no cenário político turbulento do Haiti da década de 1950, com personagens que parecem ser tirados de um filme.

Não por acaso, o título foi eternizado no cinema com o longa Os farsantes, com Elizabeth Taylor no elenco. No período da ditadura de François Duvalier (o “Papa Doc”), com sua temida polícia política, os tonton macoutes, Brown, dono de um imponente hotel na capital, Porto Príncipe, vive diferentes situações que estimulam sua análise crítica sobre o que se passa ao redor.

Uma palavra a respeito de Os farsantes. É improvável que eu venha a mover com êxito uma ação por difamação contra mim mesmo. No entanto, quero deixar claro que, embora o nome do narrador desta história seja Brown, não é Greene. Muitos leitores pressupõem — sei disso por experiência — que o “eu” é sempre o autor. Dessa forma, já fui considerado o assassino de um amigo, o amante ciumento da esposa de um funcionário do governo e um obsessivo jogador de roleta. Não pretendo acrescentar à minha natureza camaleônica as características inerentes ao amante da mulher de um diplomata sul-americano, e possivelmente um filho ilegítimo, educado pelos jesuítas. Ah, poderão dizer, Brown é católico e, como todos sabem, Greene também... Muitas vezes as pessoas esquecem que, mesmo no caso de um romance ambientado na Inglaterra, contendo mais de dez personagens, a história não teria nenhuma verossimilhança se pelo menos um deles não fosse católico. O fato de se ignorar esse aspecto das estatísticas sociais às vezes confere ao romance inglês um certo provincianismo.
O “eu” não é a única personagem imaginária: nenhuma das outras, desde as menores, como o encarregado de negócios britânicos, até as principais, jamais existiu. Uma característica física apanhada aqui, um vício de linguagem, um episódio misturam-se na cozinha do inconsciente e emergem, na maioria dos casos, de forma irreconhecível até para o próprio cozinheiro.
Quanto ao infortunado Haiti e à personagem do dr. Duvalier, não foram inventados; este último nem sequer chegou a ser denegrido na busca de um efeito dramático. Impossível escurecer ainda mais aquela noite. Os tontons macoutes contam com homens mais perversos do que Concasseur; o funeral interrompido foi inspirado num fato verídico; muitos Joseph andam mancando pelas ruas de Porto Príncipe depois de uma sessão de tortura, e, embora jamais tenha conhecido o jovem Philipot, encontrei com guerrilheiros tão corajosos e mal treinados quanto ele no velho asilo de loucos perto de São Domingos. Só em São Domingos as coisas mudaram depois que comecei este livro... para pior.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

Os Farsantes

Os farsantes insere o conhecimento histórico e as análises profundas de Greene no cenário político turbulento do Haiti da década de 1950, com personagens que parecem ser tirados de um filme. Não por acaso, o título foi eternizado no cinema com o longa Os farsantes, com Elizabeth Taylor no elenco. No período da ditadura de François Duvalier (o “Papa Doc”), com sua temida polícia política, os tonton macoutes, Brown, dono de um imponente hotel na capital, Porto Príncipe, vive diferentes situações que estimulam sua análise crítica sobre o que se passa ao redor.

Uma palavra a respeito de Os farsantes. É improvável que eu venha a mover com êxito uma ação por difamação contra mim mesmo. No entanto, quero deixar claro que, embora o nome do narrador desta história seja Brown, não é Greene. Muitos leitores pressupõem — sei disso por experiência — que o “eu” é sempre o autor. Dessa forma, já fui considerado o assassino de um amigo, o amante ciumento da esposa de um funcionário do governo e um obsessivo jogador de roleta. Não pretendo acrescentar à minha natureza camaleônica as características inerentes ao amante da mulher de um diplomata sul-americano, e possivelmente um filho ilegítimo, educado pelos jesuítas. Ah, poderão dizer, Brown é católico e, como todos sabem, Greene também… Muitas vezes as pessoas esquecem que, mesmo no caso de um romance ambientado na Inglaterra, contendo mais de dez personagens, a história não teria nenhuma verossimilhança se pelo menos um deles não fosse católico. O fato de se ignorar esse aspecto das estatísticas sociais às vezes confere ao romance inglês um certo provincianismo.
O “eu” não é a única personagem imaginária: nenhuma das outras, desde as menores, como o encarregado de negócios britânicos, até as principais, jamais existiu. Uma característica física apanhada aqui, um vício de linguagem, um episódio misturam-se na cozinha do inconsciente e emergem, na maioria dos casos, de forma irreconhecível até para o próprio cozinheiro.
Quanto ao infortunado Haiti e à personagem do dr. Duvalier, não foram inventados; este último nem sequer chegou a ser denegrido na busca de um efeito dramático. Impossível escurecer ainda mais aquela noite. Os tontons macoutes contam com homens mais perversos do que Concasseur; o funeral interrompido foi inspirado num fato verídico; muitos Joseph andam mancando pelas ruas de Porto Príncipe depois de uma sessão de tortura, e, embora jamais tenha conhecido o jovem Philipot, encontrei com guerrilheiros tão corajosos e mal treinados quanto ele no velho asilo de loucos perto de São Domingos. Só em São Domingos as coisas mudaram depois que comecei este livro… para pior.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog