Camponeses: Sua Participação No Brasil

Em abril de 1962 compareci a uma reunião das Ligas Camponesas na periferia de uma pequena cidade castigada pela seca, no interior do Nordeste brasileiro. Antes de a reunião começar, entrevistei um velho camponês, na esperança de compreender alguns dos seus problemas

e de discernir a amplitude e o significado do então muito falado movimento político do campesinato, que começara a levantar temores sobre a possibilidade de uma revolução ao estilo cubano no interior do Brasil. “Sim, Senhor”, respondeu o ancião quando perguntei se ele já tinha ouvido falar de Francisco Julião, o famoso líder das Ligas Camponesas. “Ele é o Príncipe da Vida que vai nos dar o nosso ganha-pão”. “O Senhor já ouviu falar de Fidel Castro?”, perguntei ao pobre parceiro. “Não, Senhor”, respondeu. “O Senhor já ouviu falar de Cuba?”, insisti. “Sim, Senhor. O meu vizinho tem um rádio transistor que disse que havia uma guerra lá. Afinal quem venceu a guerra?”
Durante a reunião, os capangas dos proprietários abriram fogo sobre o grupo de camponeses e camponesas aglomerados na praça principal para ouvir os jovens organizadores da Liga Camponesa. No tiroteio indiscriminado, várias pessoas saíram feridas e um garoto de doze anos morreu com uma bala na cabeça. Desde aquela época, e durante os dez anos de estudo e ensino sobre o Brasil, tenho refletido sobre as respostas daquele velho camponês. Tenho pensado sobre quem poderia vencer a guerra brasileira contra a pobreza, o analfabetismo e as moléstias que afligem a maioria esmagadora da população rural. Tenho pensado se os camponeses, num fervor revolucionário, se colocariam contra uma estrutura agrária que domina o Brasil há quatro séculos e continua a exercer uma extraordinária influência nos assuntos governamentais até hoje. Em outras palavras, eu me pergunto se os muitos esquemas de desenvolvimento e programas de ajuda estrangeira têm condições de levantar o nível de vida das massas antes que elas próprias se decidam a sublevar-se a um custo muito grande — e provavelmente com resultados sem muito efeito.

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Em abril de 1962 compareci a uma reunião das Ligas Camponesas na periferia de uma pequena cidade castigada pela seca, no interior do Nordeste brasileiro. Antes de a reunião começar, entrevistei um velho camponês, na esperança de compreender alguns dos seus problemas e de discernir a amplitude e o significado do então muito falado movimento político do campesinato, que começara a levantar temores sobre a possibilidade de uma revolução ao estilo cubano no interior do Brasil. “Sim, Senhor”, respondeu o ancião quando perguntei se ele já tinha ouvido falar de Francisco Julião, o famoso líder das Ligas Camponesas. “Ele é o Príncipe da Vida que vai nos dar o nosso ganha-pão”. “O Senhor já ouviu falar de Fidel Castro?”, perguntei ao pobre parceiro. “Não, Senhor”, respondeu. “O Senhor já ouviu falar de Cuba?”, insisti. “Sim, Senhor. O meu vizinho tem um rádio transistor que disse que havia uma guerra lá. Afinal quem venceu a guerra?”
Durante a reunião, os capangas dos proprietários abriram fogo sobre o grupo de camponeses e camponesas aglomerados na praça principal para ouvir os jovens organizadores da Liga Camponesa. No tiroteio indiscriminado, várias pessoas saíram feridas e um garoto de doze anos morreu com uma bala na cabeça. Desde aquela época, e durante os dez anos de estudo e ensino sobre o Brasil, tenho refletido sobre as respostas daquele velho camponês. Tenho pensado sobre quem poderia vencer a guerra brasileira contra a pobreza, o analfabetismo e as moléstias que afligem a maioria esmagadora da população rural. Tenho pensado se os camponeses, num fervor revolucionário, se colocariam contra uma estrutura agrária que domina o Brasil há quatro séculos e continua a exercer uma extraordinária influência nos assuntos governamentais até hoje. Em outras palavras, eu me pergunto se os muitos esquemas de desenvolvimento e programas de ajuda estrangeira têm condições de levantar o nível de vida das massas antes que elas próprias se decidam a sublevar-se a um custo muito grande — e provavelmente com resultados sem muito efeito.

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