As Origens Do Sexo: Uma História Da Primeira Revolução Sexual

Poderíamos começar em qualquer parte das ilhas britânicas, quase em qualquer data, desde os primeiros registros históricos até o fim do século XVII. Mas vamos escolher Westminster, às margens do Tâmisa. É uma terça-feira, 10 de março de 1612.

Se entrarmos no Tribunal de Justiça da cidade, veremos seus magistrados reunidos em sessão, lidando com um caso criminal rotineiro. Um homem e uma mulher solteiros foram detidos e trazidos até eles. São acusados de ter feito sexo um com o outro. A mulher confessa. O homem nega. Não demora muito para que o destino dos dois seja decidido. Eles são levados a julgamento diante de um júri masculino, interrogados e declarados culpados. Sua punição reflete o caráter hediondo de seu crime; eles não apenas fizeram sexo, como também trouxeram ao mundo um filho bastardo. Por isso, Susan Perry e Robert Watson devem ser apartados de seus lares, seus amigos, suas famílias, seus meios de vida — devem ser expulsos para sempre da sociedade em que vivem. Os juízes ordenam que os dois sejam levados imediatamente “à prisão da Gatehouse, despidos da cintura para cima, e, assim, atados à traseira da carroça e açoitados desde a Gatehouse, em Westminster, até Temple Bar; e ali, efetivamente, banidos da cidade”. Não há registros do que aconteceu com o bebê.
O ato sexual é uma prática humana universal. No entanto, o sexo também tem uma história. O modo como o pensamos, quais significados atribuímos a ele, como o tratamos enquanto sociedade — todas estas coisas diferem enormemente conforme a época e o lugar. Durante a maior parte da história do Ocidente, a punição pública de homens e mulheres como Robert Watson e Susan Perry era um acontecimento normal. Às vezes, eles eram tratados de forma mais severa, outras, menos, mas qualquer ato sexual fora do casamento era ilegal, e a Igreja, o Estado e as pessoas comuns dedicavam imensos esforços para suprimi-lo e puni-lo. Parecia óbvio que as relações ilícitas despertavam a ira de Deus, impediam a salvação, feriam as relações pessoais e minavam a ordem social. Ninguém discordava seriamente disto, embora homens e mulheres constantemente cedessem à tentação e tivessem que ser açoitados, presos, multados e humilhados para não se esquecerem. Embora os detalhes variassem de um lugar para o outro, todas as sociedades europeias promoviam o ideal da disciplina sexual e puniam pessoas por sexo consensual fora do casamento. Assim também faziam seus rebentos coloniais, na América do Norte e em outras regiões. Esta era uma característica central da civilização cristã, um aspecto cuja importância vinha crescendo continuamente desde o começo da Idade Média. Só na Grã-Bretanha, no início do século XVII, milhares de homens e mulheres sofriam as consequências a cada ano. Às vezes, como será visto, eram até condenados à morte.
Atualmente, encaramos tais práticas com repugnância. Associamo-nas ao Talibã, à charia islâmica, a povos distantes. com visões de mundo exóticas. No entanto, há muito pouco tempo, até o Iluminismo, nossa própria cultura também era assim. Esta foi uma das principais diferenças entre o mundo pré-moderno e o moderno. O surgimento das atitudes modernas em relação ao sexo no fim do século XVII e no XVIII, portanto, constituiu uma grande revolução. O objetivo deste livro é explicar como isso aconteceu.

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Poderíamos começar em qualquer parte das ilhas britânicas, quase em qualquer data, desde os primeiros registros históricos até o fim do século XVII. Mas vamos escolher Westminster, às margens do Tâmisa. É uma terça-feira, 10 de março de 1612. Se entrarmos no Tribunal de Justiça da cidade, veremos seus magistrados reunidos em sessão, lidando com um caso criminal rotineiro. Um homem e uma mulher solteiros foram detidos e trazidos até eles. São acusados de ter feito sexo um com o outro. A mulher confessa. O homem nega. Não demora muito para que o destino dos dois seja decidido. Eles são levados a julgamento diante de um júri masculino, interrogados e declarados culpados. Sua punição reflete o caráter hediondo de seu crime; eles não apenas fizeram sexo, como também trouxeram ao mundo um filho bastardo. Por isso, Susan Perry e Robert Watson devem ser apartados de seus lares, seus amigos, suas famílias, seus meios de vida — devem ser expulsos para sempre da sociedade em que vivem. Os juízes ordenam que os dois sejam levados imediatamente “à prisão da Gatehouse, despidos da cintura para cima, e, assim, atados à traseira da carroça e açoitados desde a Gatehouse, em Westminster, até Temple Bar; e ali, efetivamente, banidos da cidade”. Não há registros do que aconteceu com o bebê.
O ato sexual é uma prática humana universal. No entanto, o sexo também tem uma história. O modo como o pensamos, quais significados atribuímos a ele, como o tratamos enquanto sociedade — todas estas coisas diferem enormemente conforme a época e o lugar. Durante a maior parte da história do Ocidente, a punição pública de homens e mulheres como Robert Watson e Susan Perry era um acontecimento normal. Às vezes, eles eram tratados de forma mais severa, outras, menos, mas qualquer ato sexual fora do casamento era ilegal, e a Igreja, o Estado e as pessoas comuns dedicavam imensos esforços para suprimi-lo e puni-lo. Parecia óbvio que as relações ilícitas despertavam a ira de Deus, impediam a salvação, feriam as relações pessoais e minavam a ordem social. Ninguém discordava seriamente disto, embora homens e mulheres constantemente cedessem à tentação e tivessem que ser açoitados, presos, multados e humilhados para não se esquecerem. Embora os detalhes variassem de um lugar para o outro, todas as sociedades europeias promoviam o ideal da disciplina sexual e puniam pessoas por sexo consensual fora do casamento. Assim também faziam seus rebentos coloniais, na América do Norte e em outras regiões. Esta era uma característica central da civilização cristã, um aspecto cuja importância vinha crescendo continuamente desde o começo da Idade Média. Só na Grã-Bretanha, no início do século XVII, milhares de homens e mulheres sofriam as consequências a cada ano. Às vezes, como será visto, eram até condenados à morte.
Atualmente, encaramos tais práticas com repugnância. Associamo-nas ao Talibã, à charia islâmica, a povos distantes. com visões de mundo exóticas. No entanto, há muito pouco tempo, até o Iluminismo, nossa própria cultura também era assim. Esta foi uma das principais diferenças entre o mundo pré-moderno e o moderno. O surgimento das atitudes modernas em relação ao sexo no fim do século XVII e no XVIII, portanto, constituiu uma grande revolução. O objetivo deste livro é explicar como isso aconteceu.

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