Roberto Civita: O Dono Da Banca

Roberto Civita (1936-2013) era o dono da banca. No auge, seu império editorial - a Abril - teve 10 mil funcionários e mais de trezentos títulos. Workaholic, curioso, grande formador de talentos, homem de convicções fortes mas avesso a confrontos

, Civita redefiniu o jornalismo no Brasil ao criar publicações como Veja e Realidade - e por influenciar os rumos do país e da sociedade por meio desses veículos. Das origens familiares na burguesia italiana à crise da mídia impressa no início do século XXI, Carlos Maranhão reconstitui, com elegância, isenção e rigor na apuração, os acertos e os fracassos dessa figura tão fundamental quanto polêmica na história da mídia brasileira.
Bob, Rob, Robbie, Robert, Robertão, Roberto, dr. Roberto, ou simplesmente RC, era um homem alto, com uma invencível barriga que o incomodava. Desde a adolescência, usava óculos de modelo um tanto avantajado. Os cabelos começaram a cair a partir dos quarenta anos. Incomodava-se com a calvície, que tentava combater com o uso diário de um xampu que mandava preparar em uma farmácia de manipulação. Durante a semana, saía com um guarda-roupa inconfundível: terno escuro de dois botões, gravatas de cores vivas e camisas listradas ou azuis com colarinho branco e abotoaduras nos punhos que encomendava sob medida no ateliê da Turnbull & Asser, na Jermyn Street, rua de Londres que concentra lojas caras de moda masculina clássica. Gostava de calçar mocassins Gucci, número 43. No estilo, podia ser considerado mais um homem formal do que propriamente elegante.
Era um workaholic. Dizia, porém, que não trabalhava. “Eu me divirto”, afirmava. De certa forma, tinha razão. Exceto nas reuniões de orçamento — para ele, enfadonhas — das quais se via obrigado a participar, evitava demonstrar mau humor ou cansaço. Sem procurar esconder os dentes encavalados, amarelecidos por fumar cachimbo compulsivamente durante mais de cinquenta anos, abria o sorriso em qualquer encontro por cortesia e temperamento. Mas a atitude podia mudar de imediato. Impaciente, esperava que o interlocutor prendesse sua atenção na abertura da exposição ou da conversa. Do contrário, interrompia na hora. “Espera, espera…”, cortava. “O que eu quero saber é…” Ou fazia a pergunta direta: “What’s the story?”. Qual é a história? Nas apresentações que lhe preparavam em PowerPoint, determinava que fossem interrompidas no segundo ou terceiro quadro caso o tema não ficasse claro de imediato. Volta e meia, mandava refazer tudo. Não admitia que o texto projetado na tela aparecesse com qualquer cochilo de grafia, gramática ou algarismo.

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Roberto Civita (1936-2013) era o dono da banca. No auge, seu império editorial – a Abril – teve 10 mil funcionários e mais de trezentos títulos. Workaholic, curioso, grande formador de talentos, homem de convicções fortes mas avesso a confrontos, Civita redefiniu o jornalismo no Brasil ao criar publicações como Veja e Realidade – e por influenciar os rumos do país e da sociedade por meio desses veículos. Das origens familiares na burguesia italiana à crise da mídia impressa no início do século XXI, Carlos Maranhão reconstitui, com elegância, isenção e rigor na apuração, os acertos e os fracassos dessa figura tão fundamental quanto polêmica na história da mídia brasileira.
Bob, Rob, Robbie, Robert, Robertão, Roberto, dr. Roberto, ou simplesmente RC, era um homem alto, com uma invencível barriga que o incomodava. Desde a adolescência, usava óculos de modelo um tanto avantajado. Os cabelos começaram a cair a partir dos quarenta anos. Incomodava-se com a calvície, que tentava combater com o uso diário de um xampu que mandava preparar em uma farmácia de manipulação. Durante a semana, saía com um guarda-roupa inconfundível: terno escuro de dois botões, gravatas de cores vivas e camisas listradas ou azuis com colarinho branco e abotoaduras nos punhos que encomendava sob medida no ateliê da Turnbull & Asser, na Jermyn Street, rua de Londres que concentra lojas caras de moda masculina clássica. Gostava de calçar mocassins Gucci, número 43. No estilo, podia ser considerado mais um homem formal do que propriamente elegante.
Era um workaholic. Dizia, porém, que não trabalhava. “Eu me divirto”, afirmava. De certa forma, tinha razão. Exceto nas reuniões de orçamento — para ele, enfadonhas — das quais se via obrigado a participar, evitava demonstrar mau humor ou cansaço. Sem procurar esconder os dentes encavalados, amarelecidos por fumar cachimbo compulsivamente durante mais de cinquenta anos, abria o sorriso em qualquer encontro por cortesia e temperamento. Mas a atitude podia mudar de imediato. Impaciente, esperava que o interlocutor prendesse sua atenção na abertura da exposição ou da conversa. Do contrário, interrompia na hora. “Espera, espera…”, cortava. “O que eu quero saber é…” Ou fazia a pergunta direta: “What’s the story?”. Qual é a história? Nas apresentações que lhe preparavam em PowerPoint, determinava que fossem interrompidas no segundo ou terceiro quadro caso o tema não ficasse claro de imediato. Volta e meia, mandava refazer tudo. Não admitia que o texto projetado na tela aparecesse com qualquer cochilo de grafia, gramática ou algarismo.

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