Peregrinação Vol. II

Mendes Pinto foi de tudo um pouco em sua viagem: comerciante, noviço, embaixador, pirata, escravo, canibal, soldado, crítico de valores sociais e muitas outras coisas ainda. Essa grande quantidade de papéis deve ser entendida,
nalguns casos, como meios de superação dos transtornos da viagem e, noutros, como resultado imediato dessa superação,
isto é, como transformação operada no viajante pelo encontro da novidade.
Mas nem sempre essa quantidade de papéis é entendida assim.
Aliás, quase nunca é entendida assim. Ao contrário, ela fez com que um bom número de críticos visse o relato da viagem de Mendes Pinto sempre como um pretexto para o exercício de um daqueles papéis, relegando a segundo plano a ideia mesma de viajar e o prazer nela implicado.
Todos esses papéis estão sem dúvida encarnados no viajante.
Mas eles surgem de uma necessidade para que a viagem continue a se desdobrar ou então já são o resultado da própria viagem que operou modificações no viajante. De maneira diferente, portanto, do que pensam aqueles críticos, esses papéis não dependem da viagem; ao invés, a viagem é que depende desses papéis.
Porque cheia de perigos e obstáculos, ela obriga o viajante a se adequar às circunstâncias, de modo que possa dar seguimento ao seu mais importante projeto, que é o de viajar.
A viagem, é bem de ver, não faz desaparecer as outras necessidades básicas do homem: o viajante, como qualquer homem comum, trabalha, reza, luta, acredita nos valores de sua sociedade e os defende. O que o distingue dos homens comuns é que, além de tudo isso, possui uma necessidade intrínseca de ver e que, para tanto, é capaz de qualquer coisa.
Mas tal necessidade requer justificativa, que não deixe espaço para que se pense em diversão. No caso de Mendes Pinto tal justificativa é dupla, pois, além do estado de miséria que sempre o perseguiu, havia ameaças a sua ainda jovem e já tão desgraçada vida, uma vez (nos) assegurar ter sempre vivido "em misérias & em pobreza, & não sem alguns sobressaltos & perigos", situações, assim nos quer fazer crer, que o obrigaram a viajar para salvar a vida.

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Mendes Pinto foi de tudo um pouco em sua viagem: comerciante, noviço, embaixador, pirata, escravo, canibal, soldado, crítico de valores sociais e muitas outras coisas ainda. Essa grande quantidade de papéis deve ser entendida,
nalguns casos, como meios de superação dos transtornos da viagem e, noutros, como resultado imediato dessa superação,
isto é, como transformação operada no viajante pelo encontro da novidade.
Mas nem sempre essa quantidade de papéis é entendida assim.
Aliás, quase nunca é entendida assim. Ao contrário, ela fez com que um bom número de críticos visse o relato da viagem de Mendes Pinto sempre como um pretexto para o exercício de um daqueles papéis, relegando a segundo plano a ideia mesma de viajar e o prazer nela implicado.
Todos esses papéis estão sem dúvida encarnados no viajante.
Mas eles surgem de uma necessidade para que a viagem continue a se desdobrar ou então já são o resultado da própria viagem que operou modificações no viajante. De maneira diferente, portanto, do que pensam aqueles críticos, esses papéis não dependem da viagem; ao invés, a viagem é que depende desses papéis.
Porque cheia de perigos e obstáculos, ela obriga o viajante a se adequar às circunstâncias, de modo que possa dar seguimento ao seu mais importante projeto, que é o de viajar.
A viagem, é bem de ver, não faz desaparecer as outras necessidades básicas do homem: o viajante, como qualquer homem comum, trabalha, reza, luta, acredita nos valores de sua sociedade e os defende. O que o distingue dos homens comuns é que, além de tudo isso, possui uma necessidade intrínseca de ver e que, para tanto, é capaz de qualquer coisa.
Mas tal necessidade requer justificativa, que não deixe espaço para que se pense em diversão. No caso de Mendes Pinto tal justificativa é dupla, pois, além do estado de miséria que sempre o perseguiu, havia ameaças a sua ainda jovem e já tão desgraçada vida, uma vez (nos) assegurar ter sempre vivido “em misérias & em pobreza, & não sem alguns sobressaltos & perigos”, situações, assim nos quer fazer crer, que o obrigaram a viajar para salvar a vida.

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