Este livro é uma homenagem comovente de Vivência Brêtas Tahan ao centenário de nascimento de sua mãe, poetisa, doceira, ‘tecelã’ – Cora Coralina. Utilizando a vida como matéria-prima, Cora teceu uma indumentária capaz de envolver todos aqueles que procuram sensibilidade, simplicidade e beleza. Cada uma de suas obras deixa no ar ‘saudades’ de Goiás, de tempos antigos, de uma mulher sonhadora. A autora desenvolveu a biografia romanceada da grande poetisa – retrato carinhoso da mulher comum, ligada aos afazeres domésticos, aos filhos, que soube redimensionar tudo em apurada poesia.
Era o seu terceiro casamento.
Do primeiro, pouco se lembrava. Apenas uma criança embalando sua boneca, horas antes da cerimônia com alguém que tinha o dobro da sua idade. Casamento tratado entre as famílias Couto Brandão, da capital da Província, e Caldas, comerciantes de Itaberaí.
Ninguém nem sonhou em perguntar o que sentia, o que pensava. Apenas havia conveniência naquela união entre os dois nomes ilustres.
Pobre homem! Morreu antes de sua filha Vicência vir ao mundo.
Como é de praxe, viúva e filha continuaram morando com os pais, onde já moravam no tempo do marido vivo. As famílias grandes, as casas grandes também, para agasalhar a todos, sempre juntos.
O segundo casamento, após dois anos de viuvez, também arquitetado por sua mãe, uma senhora muito previdente, preocupada com a situação de uma filha viúva, ainda jovem, e uma neta, que poderiam ficar como pesos em suas costas e por sua conta. Pelo menos teve uma pergunta:
— Quando você quer marcar o compromisso com o Dr. Francisco?
O luto tirado de vez, a casa passando por uma faxina completa, a festa. Convidados poucos, como bem convinha a uma viúva.
Dr. Francisco era quarenta e três anos mais velho que Senhora Jacintha, mas tinha uma posição de destaque na Província: desembargador nomeado pelo presidente. Era paraibano de nascimento, mas já morava pelas terras goiases há bastante tempo. Um partido e tanto!